2005/06/30

A inauguração da biblioteca.

Vila Nova de Ourém, 28 de Dezembro de 1958.

Constituiu acontecimento de relevo na vida local, a inauguração da Biblioteca Pública 0uriense, realizada no passado domingo, dia 21.

Iniciando de modo notável a sua actividade a “Bipo” marcou desde já a sua posição como instituição de utilidade pública fomentadora de cultura e não apenas estática exposição de valores didácticos.

Provou-o a vinda de um ilustre pensador, o Sr. Engenheiro José Horácio de Moura, antigo professor universitário, que proferiu uma brilhante conferência com o qual prendeu e encantou numerosa e selecta assistência durante cerca de uma hora.

A sessão, com a sala do Cine-Teatro cheia de pessoas de todas as categorias sociais, não só da Vila como do restante concelho, entre elas individualidades da maior representação, foi presidida pelo Sr. Dr. Acácio de Paiva, Presidente do Município que tinha a seu lado os senhores Vereador Sousa Dias; José Hermelando Campos Sousa Olivença, Presidente da Conferência de S. Vicente de Paulo; Padre Henrique Fernandes, Pároco de Vila Nova de 0urém; e a Direcção da Biblioteca, Dr. Manuel Prazeres Durão, Luis Rito e José Galamba de Oliveira, tendo este último aberto a solenidade com uma interessante exposição acerca da Biblioteca e feito a apresentação do conferente, que seguidamente dissertou sob o tema “Presença Social da Família”, perante um auditório que várias vezes o interrompeu com quentes aplausos e no final o premiou com crescente entusiasmo.

Encerrou a sessão, com palavras de encómio para o trabalho apresentado e para a obra da Biblioteca que assim se inaugurava, o Sr. Presidente da Câmara.

Seguiu-se uma visita às instalações da Biblioteca, provisoriamente alojada em duas salas do rés-do-chão do Asilo, na frente voltada para o Largo Dr. Vitorino de Carvalho.

Os visitantes, entre eles muitas senhoras da melhor sociedade, apreciaram interessadamente os exemplares existentes da que fazem parte algumas preciosidades bibliográficas e saíram com a certeza de que uma velha aspiração dos Ourienses tivera finalmente realização.

A nova Biblioteca abrirá brevemente as suas porias no público com regularidade, para o que se está a proceder à aquisição de mais livros, esperando-se que os particulares também contribuam com as suas ofertas, a que, alias, alguns muito louvavelmente já fizeram.

No “Noticias de Ourém” a 28/12/1958

OURÉM!...

Vila Nova de Ourém, 22 de Junho de 1958

OURÉM!...

Ourém! Ourém! Ó minha amada Ourém!
Quem pudesse auscultar teu coração,
Senti-lo-ia pulsar com emoção,
Com ternura de boa e santa Mãe!

O teu peito singelamente aberto,
Sacrário iluminado ao sol de Deus,
Será hoje o cantinho bem dilecto,
Onde hão de comungar os filhos teus!

Sentir minha Ourém, ao teu redor,
Os filhos teus e o acrisolado amor
Num sentimento de profundo bem,

Sentimento fiel de puro encanto
Que à partida irá envolto em pranto
Numa saudade… Ó minha Ourém!

Acácio Souto

No “Noticias de Ourém” a 22/06/1958

2005/06/28

Ourém de Ontem VII

Vila Nova de Ourém, 15 de Novembro de 1959.
OURÉM DE ONTEM
Por Joaquim Ribeiro

(Continuação do número anterior)

Coisas sobre a indústria

A indústria era de pouca importância. Apenas umas pequenas oficinas na vila: as de sapataria do Jorge, do Frazão e a do Albertino, de serralharia do António Balseiro; alfaiatarias do José Leitão, Ti Máximo, Joaquim Claudino e outros; as de funileiro do João Leal, Joaquim Latoeiro, Frederico Ferrer Guimarães, António Figueiredo, Artur de Oliveira Santos também com a sua tipografia; as, de picalimas, do Gil, ao Ribeirinho e a de Alfredo Maria Pedrosa no Regato; as de Olaria e de cordoaria lá para “Castela” e ainda a de concertos de bicicletas, que pouco tinha que fazer, pois em todo o concelho talvez não houvesse ao tempo, um quarteirão desses meios de transporte.

Construiu-se um edifício no Lagarinho, para uma fábrica de curtumes, que julgo não chegou a funcionar, e ainda uma outra de sabão, mesmo na Vila, que teve fim igual.

Existia na Milheira uma fábrica de serração de um tal Tomás de Belmonte, que se limitava a serrar madeira para arcos de peneira e crivos.

Mais tarde... 1920? montou-se no Ribeirinho a serração dos Verdascas que constituiu motivo de contentamento na população. Esta já era mais importante e com isso víamos nós o princípio de uma nova era da indústria em Ourém, o mesmo era que supor mais trabalho, mais riqueza.

A seguir muitas outras foram instaladas na Vila e por todo o concelho, de serração, de carpintaria etc., mas essa parte já é referente à conferência que tratar Vila Nova de Ourém no presente.

A Corporação dos Bombeiros e o seu progresso

A Corporação dos Bombeiros é mais antiga do que a minha fixação em Vila Nova de Ourém, em 1912, mas já no ano anterior tinha assistido a um exercício num esqueleto arvorado junto à rua Dr. Silva Neves, próximo da garagem de José Agostinho da Graça, e ali vi trabalhar, sob o comando de Alfredo Leitão o corpo activo desse tempo – José Rito, Joaquim Pereira, Júlio Alves, António Lopes, Francisco Baleco, Manuel Freitas da Silva.

O seu “Quartel” era onde e hoje a garagem do Dr. Manuel Durão, e que então fazia parte do teatro – o seu átrio e bilheteira. - A dependência era pequena, mas o material ali guardado também era pouco: uma bomba manual que ainda hoje existe como relíquia, uma ou duas mangueiras, e o equipamento do corpo activo.

A evolução operada nesta corporação todos a conhecem e podemos dizer com orgulho ser uma das melhores do País, em terras da categoria da nossa.

Figuras típicas

Todas as terras têm as suas figuras típicas ou características e Vila Nova de Ourém também tinha as suas: o Cunha, o Adriano e o João Rito. O Cunha, o antigo “barrigas” das tipóias de Lisboa, subia todos os dias à Vila vindo do Carregal, onde morava, com a sua inseparável bengala e o seu chapéu de coco em dias solenes. Discutia e ralhava com toda a gente, por tudo e por nada, mas era amigo de todos e todos amigos dele. O Adriano José Pereira, o conhecido “Larão”, alternava a sua profissão de barbeiro com a de preceptor muito amigo dos filhos do Vicente Rodrigues. E isto depois de ter deixado as suas funções de sacristão, em virtude de, por intrigas, ter batido no próprio S, Francisco. O João Rito figura extravagante e um pouco sinistra, trazia sempre um lenço a tapar-lhe a cabeça e parte da cara, para lhe não caírem as barbas nem o cabelo, que nunca cortava.

Como o Cunha também usava Chapéu de coco. Morava num casebre desmantelado ali para os lados da Fonte Nova, descendo de vez em quando ao povoado para ir às irmãs, donas da hospedaria, buscar dinheiro, para em seguida ir ao Sousa comprar charutos quinze reis, em que andava sempre pendurado,

E pronto. Cheguei ao fim – ainda bem dirão todos. O que lhes contei foi descolorido e mal apresentado sem dúvida, mas corresponde exactamente à verdade de alguns factos passados ao longo destes 50 anos. Se mais e melhor não fiz foi porque realmente mais e melhor não sei. Desculpem.
Fim

No “Noticias de Ourém” a 15/11/1959

2005/06/27

Solteiros - Casados

Vila Nova de Ourém, 11 de Abril de 1948.

(Clique na foto para ampliar)
Em benefício do Cofre de Beneficência do “Notícias de Ourém” realizou-se no passado domingo um desafio de Futebol entre um grupo de antigos jogadores, solteiros e “os que já o foram”.

Ao campo do Lagarinho acorreu um grande número de pessoas desejosas de observar o desafio. Às 16.30, sob a arbitragem de Alfredo Simões, que os programas anunciavam imparcialíssimo, deram entrada no campo os jogadores, primeiro “os que já o foram” depois os solteiros, que a assistência acolheu com imensas palmas. Com os grupos alinhados no terreno surgem os fotógrafos que não se cansam de disparar as objectivas, focando os conjuntos em todas as posições. Não se pode perder um pormenor.
A assistência impacienta-se com a demora pois anseia por ver as revelações anunciadas: um guarda-redes que não mergulha, um defesa que não deixa passar os jogadores adversários, um avançado com as botas ao contrário, enfim autênticas revelações futebolísticas.

Ainda com os jogadores formados a meio do terreno surgem as madrinhas com esplêndidos ramos de flores atados com fitas de onde se destacam as dedicatórias. Madrinhas das “que já o foram” D. Esperança Rodrigues, oferece ao capitão do grupo respectivo o ramo com palavras de coragem e incitamento; madrinha dos solteiros Maria Luiza Simões Pereira (a Biazita) entrega o seu ramo e pede aos afilhados que não percam. Mais fotografias. O árbitro impacienta-se. Mas eis que surge o César, o velho César com o lindo ramo que, por entre lágrimas, entrega ao Capitão “dos que já o foram”. Muitas palmas. Abraços. O César chora comovido.
O árbitro continua a apitar. Aparecem os primeiros rostos cadavéricos... entre os jogadores. Alguns não poderão com a bola.
Escolhe-se o campo e os grupos alinham:
Solteiros Foot Ball Club – António Marinho, Joaquim Baptista de Oliveira e David Vaz; João Patacho, Manuel Dias (cap.), Joaquim da Silva, José Simões, Américo Mendes, Armando Pereira, Mário Pereira e João Alvim.

Os que já o foram Atlético Club – Alberto Pinheiro (cap.), Alberto Baptista de Oliveira e Augusto Simões, Dr. Ruy Rosa. Victor Hugo Espada, Dr. Garcia Rodrigues, António Andrade, António da Cruz Claudino, Dr. A1bano Rodrigues, Alfredo Rodrigues Leitão e Aguinaldo Santos.
Dá a bola de saída a madrinha destes últimos.
O árbitro apita, os solteiros avançam mas as avançadas perdem-se nos pés dos defesas contrários que numa tarde feliz conseguem desfazer o perigo para as suas redes. Alberto Pinheiro, faz a sua primeira defesa e com ela o seu grupo anima, ganha confiança e conduz uma avançada que Marinho defende com facilidade.
Há deslocações em série que o árbitro assinala imperturbavelmente.
Há protestos sem razão. Aos 10 minutos o Dr. Ruy Rosa magoasse e é substituído. Aos 15 minutos termina a primeira parte.
Logo no início da 2.ª parte nota-se da parte dos solteiros uma vontade enorme de vencer, mas a defesa adversária, atenta e vigilante desfaz todas as combinações dos avançados solteiros. Nem com W nem com M, conseguem transpor aquela barreira. Um pontapé de longe parece meter a bola nas balizas, mas Alberto Pinheiro numa estirada colossal, desfaz o perigo. Avançadas de um, avançadas de outros e termina a 2.ª parte sem ter havido golos. Esta parte durou 10 minutos.
Na 3.ª parte entra o engenheiro Sobral substituindo o Dr. Ruy Rosa. Vem folgado e parece mexer na bola e pelo sim pelo não é melhor terminar o desafio… cinco minutos depois do início da 3.ª parte. Há abraços de contentamento.
Resultado final:
Solteiros Foot Ball Club – 0
Os que já o foram Atlético Club – 0

Na Pensão Santos reuniram-se, num jantar de confraternização todos os jogadores, árbitro e juízes de linha: Dr. Rui Vieira e José Verdasca.
Aos brindes falou o senhor Alberto Pinheiro que focou a coragem e valentia dos “que já o foram”. De seguida, Manuel Dias, capitão dos solteiros brinda pelos seus jogadores e pelos adversários. Dr. Garcia Rodrigues foca as vantagens da realização de desafios deste género aproximando assim os “velhos” dos “novos”.
O Dr. Ruy Rosa fez a análise individual dos jogadores, o que deu motivo a gargalhadas.
E assim terminou a alegre tarde desportiva faltando simplesmente falar na parte monetária:
Receita cobrada de entradas 615$50.

DESPESA
G.N.R. ............................................................................ 62$40
Marcação do campo.............................................................7$50
Papel para programas....................................................... 15$00 TOTAL...............................................................................84$90
Entregue à Secção de Beneficência do “Noticias de Ourém” 530$60.

Repor-Ter
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Ao “Noticias de Ourém” sensibilizou-se profundamente a generosa iniciativa que trouxe ao seu cofre da beneficência uma receita de Esc. 530$60, precioso auxílio que multo agradece.
E não só materialmente conta para este jornal tão simpática ajuda. Também moralmente se sente assim fortalecido, demais a mais partindo esse gesto de um numeroso grupo de pessoas entre as de mais extremada categoria da nossa terra.

No “Noticias de Ourém” a 11/04/1948

Solteiros - Casados


(Clique na foto para ampliar)
1 – Manuel Dias; 2 – António Marinho; 3 – João Patacho; 4 – José Simões; 5 – Armando Pereira; 6 – Maria Luiza Simões Pereira (Biazita); 7 – César; 8 – D.ª Esperança Rodrigues; 9 – Alberto Pinheiro; 10 – Dr. Albano Rodrigues; 11 – António da Cruz Claudino; 12 – António Andrade; 13 – Victor Hugo Espada; 14 – Alfredo Rodrigues Leitão; 15 – Alfredo Simões; 16 – José Verdasca 17 – Joaquim Baptista; 18 – David Vaz; 19 – Joaquim da Silva; 20 – João Alvim; 21 – Américo Mendes; 22 – Mário Pereira; 23 – Aguinaldo Santos; 24 – Dr. Ruy Rosa; 25 – Augusto Simões; 26 – Alberto Baptista; 27 – Dr. Garcia Rodrigues; 28 – Dr. Rui Vieira;

Ourém de Ontem VI

Vila Nova de Ourém, 8 de Novembro de 1959.

OURÉM DE ONTEM
Por Joaquim Ribeiro

(Continuação do número anterior)


Os transportes de aluguer e a sua evolução

Os transportes passaram por várias fases. Primeiro eram os carros de António Guimarães, com um sortido muito razoável – “Breks” “Americana” e “Charrette” - que era o melhor que se podia arranjar nesse tempo; depois o João Espada com a sua charrette que podíamos classificar de luxo; o Pícaro com os seus cavalos brancos e sua prosápia de bom pé-de-rédea, que era efectivamente, e já mais tarde a tipóia de Vicente Rodrigues. Aqui, se bem me recordo, acabaram os transportes de aluguer de tracção animal, pois já nessa altura começavam a marcar posição os transportes mecanizados.

Primeiro o “calça arregaçada” do Raúl & Freitas, a seguir o Fiat descapotável do Manuel Joaquim Ribeiro; a “D. Elvira” do António Duarte; o Durá do falecido Emídio; o Balila do João Espada, etc. etc.

Aqui a coisa começou a tomar maior volume. Já havia também o pequeno Austin de António Chucha que trocou por um Chevrolet e a seguir por outro novo de igual marca. E daqui em diante perdemos-lhe o conto, até que hoje temos em Ourém uma praça de carros de aluguer como há poucas em vilas do nosso país.

Já por volta de 1914 tinha havido em Ourém um automóvel de aluguer novinho em folha. Era um “Hupmobil” descapotável, como o eram quase todos os carros desse tempo, e que custou mil e poucos escudos. Mas nesse tempo já era muito dinheiro e assim teve que constituir-se uma sociedade para a sua compra e exploração.

O condutor era o Eduardo Beselga, que nem carta tinha, nem era precisa. Também não havia polícia de trânsito. Claro que o carro não estava na praça. Estava na “lagarage” como dizia o “Migirico” empregado da Viúva, e só quando de longe em longe apareciam clientes, o Eduardo largava as bicicletas para se agarrar no volante.

Um dia uns amigos alugaram o carro e foram dar um passeio a Caldas da Rainha. Calhou 1$50 a cada um. Foi um escândalo. Ir às Caldas e gastar 1$50 era esbanjar dinheiro. Não faltou quem dissesse até que o dinheiro tinha sido roubado. Mas não foi. Era tudo pessoas idóneas e bem comportadas.

E já que falamos aqui, de transportes, é curioso descrever a maneira como nesse tempo era feito o das malas do correio:
A Chão de Maçãs ia todos os dias e noites o chamado carro do correio levar e trazer as malas aos respectivos comboios.

Neste aspecto, estávamos melhor servidos do que hoje, porque o carro que fazia este serviço tinha que ser, conforme determinava o contrato com os Correios e Telégrafos, de parelha e 4 rodas, e assim quem tivesse necessidade de ir para o comboio ou vir de comboio, tinha, ao preço módico de trezentos e dez reis, transporte garantido de dia e de noite, o que agora só acontece de dia.

De Vila Nova de Ourém, para os vários lugares que desfrutavam a regalia de ter caixa de correio, partiam todas as manhãs os respectivos “estafetas” e alguns apanhavam cada estirão!!...

O velho Gabriel ia todos os dias até Espite – 34 quilómetros, ida e volta – a Cristina do Alqueidão, por herança do pai, fazia o mesmo para a Freixianda e redondezas, mas esta à volta dos 50 quilómetros.

O Zé Cabreiro, de Pinhel, tinha uma volta mais curta, mas mesmo assim ia até Fátima. Para o Bairro e Gondemaria, outros partiam também, todos os dias, com igual missão.

Tudo se modificou nos últimos tempos, mercê das várias carreiras de camioneta e das bicicletas motorizadas.

A iluminação pública e as suas alternativas.

A iluminação teve também alternativas. Não conheci Vila Nova de Ourém sem iluminação pública, mas é natural que isso tivesse acontecido, mas muito, muito atrasadamente.

Quando a comecei a conhecer melhor, como atrás digo, era o petróleo que muito palidamente iluminava as ruas da Vila, o que aliás deve ter acontecido em todas as terras do país nos tempos já distantes. Mas após a implantação da Republica foram instalados três potentes candeeiros “Visar” que, a grande altura, iluminavam convenientemente os principais largos da terra – Praça, Largo da Loiça, e a dos Cereais. - Era o falecido Manuel a quem deles cuidava.

Cabe bem aqui o termo de “sol de pouca dura”, pois esta regalia ou benefício público durou pouco tempo. Passamos a voltar a encontrar o José António dos Santos – o José Ovelheiro de escada às costas, calcorreando as ruas da vila, à noitinha, para acender os candeeiros de petróleo, para depois, já de madrugada, fazer o mesmo trajecto para os pagar.

O comércio da terra já em 1912 era importante, e não sei bem se em certos ramos mais importante do que agora.

Em relação ao comércio.


O retalho de mercearias e ferragens tinha relativamente mais movimento. Esta falta de progresso compreende-se e justifica-se se atentarmos em que esse ramo de actividade comercial se encontra agora espalhado em quase todas as aldeias do concelho.

Assim, se o retalho não avançou, em contrapartida o atacado que não existia, nasceu e desenvolveu-se.

No meu tempo de empregado – primeiro marçano, que era assim que se começava na loja de Sousa, ali atendi muitos clientes, que a falta de armazéns ali se vinham abastecer ao retalhista melhor fornecido. Era o Manuel Lopes Nogueira, da Charneca; o José Vieira da Silva, de Espite; o Inácio Alho da Atouguia, o José Lopes do Murtal; o António Ribeiro Freire, de Rio de Couros e tantos outros que a memória deixou passar. Hoje todos esses estabelecimentos, nas mãos de outros donos, pois aqueles já, segundo creio, desapareceram do número dos vivos, todos esses, dizia eu, e muitos outros que foram abrindo nas várias aldeias do concelho, têm melhor e maior sortido e o publico já não precisa ir á vila para se abastecer.

Daí a razão, como atrás digo, do comércio retalhista da vila não ter acompanhado o aumento da população da terra e das aldeias.

O mercado da quinta-feira era dos mais importantes da região, a feira do gado, chamada, era onde é agora o mercado da fruta; a praça cheia de barracas de chitas e riscados, e de ourives ambulantes; no Largo da Igreja assentava arraias com o seu carro de 4 rodas, a padeira de Leiria e em frente junto ao Raúl, os sapateiros do Pafarrão vendiam o seu calçado; e ao longo da rua principal, das Guimarães ao Já-Cá-Tá, os cestos de tremoços e de cerejas na época eram às dúzias.

A tia Lucília vendia café no seu toldo apropriado, junto ao “comboio” e em todas as tabernas, como agora ainda, comiam-se sardinhas e bebia-se bom palheto.

Nos estabelecimentos não havia mãos a medir, pois era preciso apurar bastante nesses dias, porque nos restantes quase não dava “para o petróleo”, e na sexta-feira costumava aparecer o Zé Rato e o Professor Oliveira, agentes bancários desse tempo, com letras para receber.

Nos dias 3 realizava-se já então a feira mensal, sempre fraca, como agora ainda. E em Outubro a feira anual, que apesar de velha ainda hoje se chama nova.

(Conclui no próximo número)

No “Noticias de Ourém” a 08/11/1959

2005/06/26

Ourém de Ontem V

Vila Nova de Ourém, 1 de Novembro de 1959.

OURÉM DE ONTEM
Por Joaquim Ribeiro

(Continuação do número anterior)

Mais tarde – 1920-1922, já tinha os meus “aposentos” na feira da Loiça, e então era lá que alguns iam ter quando encontravam a porta do patrão fechada.

Cabe aqui uma história verdadeira com isto relacionada:
Numa dessas noites em que o Marçal me foi pedir “asilo” estiveram lá a conversar ate às tantas o Lúcio Casimiro e o Francisco do Vicente. Dois bons amigos 100% brincalhões. Pretendia que eles se fossem embora mas só o consegui bastante tarde. Não contentes quiseram ainda brincar mais, e então encostaram à porta da minha casa um banco dos que servem para armar as barracas no mercado, nos dias de feira. O Marçal que deu pela coisa, foi ver o que havia e o banco caiu-lhe em cima. Furioso, e para os amedrontar, disparou um tiro, para o ar, claro, e eles fugiram. Mas nesta altura ouviram passos pesados no Largo e julgando que era a Guarda Republicana, que podia complicar a coisa, esconderam-se na capoeira das galinhas, por acaso desabitada e esperaram, esperaram tanto que adormeceram e só acordaram de manhã.

Mas voltemos ao horário. O descanso semanal era à segunda-feira, que era aproveitada para visitar as nossas famílias e amigos da aldeia. Éramos do concelho, a maioria, o Zé Dias e o António iam para a Mata de Urqueira; o Bernardino e o António Moreira para a Atouguia; o António Vieira para Pinhel e eu para o Zambujal. Os que não eram do concelho como o Zé Maria; o Varanda; o Peralta; o Salvador; o Marçal etc. faziam-nos companhia quase sempre. Às vezes à noite íamos até a vila de Ourém, onde o Zé Dias, o Zé Ezequiel, o primo Júlio e o Tapioca tinham as suas namoradas e ali se improvisava logo um baile, em casa do sacristão – nesse tempo era assim.

Outras vezes passávamos um bocado da noite no Coxo Rito ou no Joaquim Baptista, enquanto os patrões e algum empregado já mais categorizado, se reuniam no Joaquim Claudino, mesmo em frente do Hospital, a jogar o burro americano.

Mais tarde, mesmo assim há cerca de 40 anos, já homenzinho, frequentávamos o Hotel Parque, o Ti Idalino ou o Madruga.
Ali se encontravam todas as noites o escrivão Vieira, o Luís da Balbina, o Manuel Fernandes, o Lúcio e o Ezequiel, o Pícaro, o Madruga e o sogro e eu e ainda outros. Jogávamos. Mas o Administrador do Concelho que era o velho farmacêutico António Leitão, fez constar que assaltaria a casa. Então Joaquim Simões disse ao mano “Manel” para andar ali pela Praça e se visse a Guarda aproximar-se fosse a correr prevenir-nos. Estávamos descansados. Mas às tantas bateram a porta da casa onde estávamos e diz o “Manel” cá de fora: Ó “Jaquim”, Jaquim abre a porta que está aqui a senhora guarda.

E já agora outra história do mesmo, isto sem que de qualquer modo queiramos ofender a sua memória, pois todos nós o considerávamos:
O Joaquim Simões tinha uma pequena mercearia e o “Manel” de vez em quando fazia de caixeiro, sem que disso alguma coisa percebesse. Um dia, na loja, uma freguesa que pretendia comprar um bocado de queijo da serra, viu o produto, não gostou. Não presta diz a freguesa. E o “Manel”, argumentava indignado: Não presta !!! Essa agora, então ele é quase só batata.

Dissemos atrás que chegou a haver um salão de bilhar, mas este como o Hotel tiveram curta existência.

A farmácia e a loja de Sousa eram centros de cavaco da gente grada da terra. Aqui se juntavam os mais categorizados e ali os funcionários mais modestos e alguns estudantes em férias.

Nesses tempos recuados havia em Ourém uma certa separação de classes, mais acentuada do que hoje mesmo. Davam-se bailes ali num primeiro andar da Praça onde só entrava o sangue azul e os altos funcionários. Em algumas casas particulares, reuniam-se para o mesmo fim comerciantes, um empregado ou outro mais “crescido” e os funcionários de menor categoria. Na associação dos Caixeiros reunia-se “a meia tigela” como se dizia, e lá para o Zé Couto e Aldeia dos Álamos a coisa descia mais ainda, em categoria, claro.

Não havia cafés, repetimos, mas em compensação havia de vez em quando recitas por amadores e por algumas companhias, em “tournée” pela província, algumas das quais, como a de Constantino de Matos, por ali ficavam temporadas grandes, pois embora os proventos não fossem por ai além, sempre iam ganhando para as despesas.

Nesse tempo havia em Ourém bastantes amadores dramáticos, mas só do sexo forte, pois o fraco não colaborava. Para suprir essa falta vinham de Leiria as manas Riosas, amadoras de grande categoria.

Mas os nossos cultivadores da “arte de Talma” não lhes ficaram atrás. Era o Joaquim António Casimiro, o António Leitão, o José Rito, o António Gonçalves de Freitas, o Luis Fernandes e mais tarde o Ezequiel Casimiro, o Manuel Freitas da Silva, o Moura Zenóglio, o Tapioca, o António Varanda e eu, o Lúcio e o Bento chegamos a experimentar as nossas habilidades, que se verificou bem poucas eram.

No carnaval de 1921 lembrámo-nos de organizar um espectáculo em benefício do Hospital. Foi um sucesso. O velho teatro, onde agora está o Grémio da Lavoura, encheu-se a transbordar. Não me recordo o nome da peça, mas sei que tudo foi desempenhado por nós homens, e nem sequer faltou a orquestra regida por Alfredo Leitão, e como nós, vestido com as fardas dos músicos da Filarmónica de Ourém.

Mais tarde veio outra gente, gente nova e com menos preconceitos, e então já o elemento feminino começou a colaborar, e podemos dizer que aí por 1926, mais ou menos, tivemos em Ourém uma autêntica companhia de revistas e opereta. Assim ali vimos com muito agrado a “Má Língua” “Leviandades” “Secção de Anúncios” “Intrigas no Bairro” etc.

Num destes espectáculos desapareceu o boné do Freitas e então resolvemos abrir uma subscrição para lhe comprar outro. A comissão inscreveu-se à cabeça, mas as importâncias eram fictícias – forno falheiro como dizia o Manuel J. Ribeiro. Comprou-se-lhe um boné e ainda jantámos todos na viúva de Zé Guiomar.

CONTINUA…

No “Noticias de Ourém” a 01/11/1959

2005/06/25

Ourém de Ontem IV

Vila Nova de Ourém, 25 de Outubro de 1959.

OURÉM DE ONTEM
Por Joaquim Ribeiro

(Continuação do número anterior)

Aspectos de Vila Nova de Ourém – Como ali se vivia

Em certos aspectos a vida de Ourém, se algumas modificações teve foi para pior. Assim por exemplo as festas a Nossa Senhora da Piedade que anualmente se realizava tinham um programa muito mais completo e de maior interesse. A parte religiosa mantém-se igual ou semelhante, mas a civil em nada se compara: duas bandas de música, fogo de artifício, ranchos folclóricos, vindos de Soure e Pombal e de outras terras distantes, que com as suas músicas e cantares davam à Vila uma vida diferente e alegre. E até touradas chegou a haver. Em 1923 improvisou-se uma praça de touros, de madeira, no Ribeirinho, e ali se manteve por alguns anos.

Ali vimos trabalhar e fugir os aficionados da terra, coadjuvados pelo profissional Luciano Moreira e Augusto Gomes que ali o levou.

Mas neste aspecto, dizia eu, a coisa mudou muito: as festas têm sido o que todos nós sabemos: missa, sermão e procissão: meia dúzia de peças de música, as vezes mal executadas, uns tantos foguetes, venda das ofertas, e está festa pronta. É certo que há anos a uma destas festas se lhe imprimiu grande modificação para melhor. Houve arraial e com um belo programa cultural e recreativo, mas voltamos ao mesmo marasmo.

As comemorações do Cinco de Outubro, nos primeiros anos cheias de esplendor e grandeza, também foram morrendo a pouco e pouco certamente porque o seu impulsionador, Artur de Oliveira Santos, veio fixar residência em Lisboa.

No que respeita a outras diversões como: excursões, piqueniques, etc. também a coisa se modificou muito. Nesses tempos já distantes havia menos gente, mas talvez por isso mesmo éramos mais unidos. Havia mais iniciativa e mais colaboração.

Um dia – a uma segunda-feira claro – foi uma caravana de bicicletas até à Batalha para visitar o Convento e voltar por Leiria. A estrada de ligação do nosso com aquele Concelho estava longe de estar concluída. A nossa só chegava a povoação de Fátima, e daqui até ao limite do Distrito de Leiria, Algar de Água, cerca de 1km além da Cova da Iria, onde nessa altura não havia ainda uma simples barraca, tínhamos apenas um esboço de estrada – terraplanagem – mas nós – 16 amigos, alguns deles infelizmente já desaparecidos -lá fizemos o trajecto, algumas vezes em cima da bicicleta, outras vezes ela em cima de nós.

Anos depois, já com a estrada concluída, lá fomos de novo mas desta vez de camião alugado em Leiria, porque nesse tempo ainda por Ourém não havia desses meios de transporte Não me lembro já quanto custou esse passeio, mas do primeiro sei que levei dez tostões e ainda cheguei a Ourém com uns trocos.

As idas ao Agroal, no verão, eram frequentes com muitos companheiros e programa previamente elaborado. Duma vez até meteu Filarmónica – a da Charneca. - Todos os meios de transporte eram utilizados, mas a bicicleta e o jerico eram os mais indicados, porque só estes lá chegavam mesmo Os carros tinham que ficar no pinhal e o resto do trajecto era feito a pé.

Tínhamos que sair cedo, mas mais cedo ainda começava o Almeida fiscal a deitar foguetes à laia de despertador. Agora com mais possibilidades, estradas um pouco melhores, embora mais longe, automóveis às dúzias, de aluguer, e particulares e camionetas nas mesmas condições, vai-se lá relativamente muito menos vezes.

Já mais tarde também se realizaram vários piqueniques, mas também estes desapareceram de vez. Fez ali muita falta o Zé Leitão agora falecido em África, para onde tinha ido há anos.

Também se organizaram várias pescarias no nosso riozito, cujo produto era logo transformado em caldeirada, feita pelos que para isso tinham mais jeito, ali mesmo na eira do Cordeiro, hoje propriedade de Dr. Manuel Durão.

Duma dessas tenho gratas recordações, sempre avivadas com uma fotografia que possuo. Lá está o velho César e o Chico ainda miúdo, o António Dias e o António Ezequiel também ainda “cachopos” o António Marinho e o Bento Ferreira; o Figueiredo e o Lúcio; o João da Amélia, eu etc. E à noite nos meus “aposentos” no Pátio do Artur houve ceia de chocolate, feito numa panela de 20 litros e bebido por umas chávenas características, cujo nome aqui não posso dizer.

Era assim um pouco a vida do nosso tempo de rapazes.

Há 50 anos não havia cafés em Ourém. Não havia nem era possível haver, pois que para tanto não havia clientes. Os patrões e os empregados no comércio, constituíam a maioria da gente de trabalho, não tinham tempo disponível para os frequentar.

Os horários eram apertados. Os estabelecimentos abriam logo que começava a luzir o buraco e só fechavam próximo da meia-noite ou quando, já tarde, se acabava o petróleo no candeeiro.

Para se ajuizar deste excesso de rigor, chamemos-lhe assim, que depois se foi modificando e muito, basta dizer, que a loja da viúva, como atrás refiro, tinha três empregados homens que, se em dias de descanso semanal às 10 horas não estivessem em casa, já encontravam a porta fechada e no dia seguinte quando se apresentavam ainda apanhavam uma descompostura.

Não obstante, nos dias de trabalho estávamos ao balcão até depois das 11.

Como se vê não havia grande moralidade neste capítulo, mas em compensação tínhamos outras grandes vantagens. Os patrões, embora alguns mantivessem os empregados a certa distância (eu não tinha razão de queixa) eram nossos amigos, e quanto a ordenados a coisa também não era má. Recordo-me que quando o ordenado dum professor primário era de 15$00, e sujeito ainda a descontos, alguns de nos já ganhávamos 10$00 cama e mesa, o que correspondia a bastante mais. Mas voltando ao caso das horas de entrada, o que acontecia com os empregados da Viúva acontecia, mais ao menos, com todos nós, assim volta e meia lá estávamos a bater à porta da tia Lucília ou do José Nunes para ir dormir com este ou com o Figueiredo.

CONTINUA…


No “Noticias de Ourém” a 25/10/1959

2005/06/24

Formatura dos B.V.O.


(Clique na foto para ampliar)

Ourém de Ontem III

Vila Nova de Ourém, 18 de Outubro de 1959.
OURÉM DE ONTEM
Por Joaquim Ribeiro

(Continuação do número anterior)

Na Praça, lá estava já nesse tempo, e há muito, a farmácia do falecido Alfredo Leitão, com a fabriqueta de pastilhas ao lado, onde o César e o António Ezequiel ocupavam parte do seu tempo. Mais adiante, a loja da Joana Fidalga e a do Joaquim Latoeiro já mais recente. Do outro lado, topo nascente, José Nicolau à esquina, mais tarde o Joaquim Simões, Madruga, e a Virgininha logo a seguir; depois o Joaquim Baptista cujo negócio quase se limitava aos dias de mercado, e o Ti Máximo com a sua alfaiataria.

A casa de Dr. Agripino (a actual Caixa Geral dos Depósitos) era uma das construções de maior categoria que então havia na Vila. Pena foi – a um dia o dissemos no “Noticias de Ourém” – que em vez da transformação porque a fizeram passar não fosse construído um edifício novo para o mesmo fim, porque a vila contaria agora com mais um prédio a enriquecê-lo, e de que bem precisa.

Entre esta e a loja do José Maria Fernandes existia um casarão a cair de velho, que julgo que nem para arrecadações servia.

Em seu lugar construiu-se o imóvel de 2.º andar que hoje lá vemos, e onde o António Dias, há trinta e tal anos, instalou o primeiro café da Vila, o Café Central hoje propriedade do Joaquim Espada, depois de ter pertencido também ao falecido Joaquim Simões, pai do nosso Crispim, e onde este era o melhor freguês do bilhar.

O José Maria Fernandes, proprietário da loja da esquina, era um comerciante diplomata e de grande respeitabilidade e prestigio.

Estamos a vê-lo com as suas barbas até ao peito a caminho do Ribeirinho onde tinha o seu armazém.

Em frente, a loja do Cândido passou por vários ramos até se fixar ao de fazendas e miudezas do José Maria Alves Marques.

Pegado moravam as Saragaças, e o cartório do Deus.

No largo da fruta – noutros tempos feira das galinhas – não havia estabelecimento, além do Jorge sapateiro e mais tarde o César a rapar queixos. Ao lado o cartório de contadoria judicial de João António Guimarães Pedrosa, e mais acima, ao canto, o atelier de escultura, do saudoso Luiz Fernandes, onde os rapazes do nosso tempo se juntavam de vez em quando, Dum lado, por cima era a escola feminina regida pela D. Ana Rita Xavier Pedrosa, do outro morava o referido José Maria Fernandes, e ao topo norte o médico Dr. Barjona de Freitas e depois o Dr. Luz Preto. Daqui para a “Feira do Mês” havia uma ruazita rodeada de muros de quintais que não devia ter um metro de largo.

O Largo da Loiça, quanto a edifícios, está quase na mesma. Novo apenas a casa do Bernardo e aquela onde está a Loja dos Rapazes, e dentro da cerca do Hospital o monstro do Asilo. Ali existiu noutros tempos a Redacção da “Voz de Ourém” com a sua Tipografia própria e a oficina de funileiro de Artur de Oliveira Santos; o Luiz da Balbina com a sua oficina de sapateiro, o Figueiredo com a de funileiro; o Testa com barbearia e ainda o Vicente das máquinas. Mais acima, à esquina, o estabelecimento de Manuel Joaquim Ribeiro, com o seu salão de bilhar e outros jogos no 1.º andar em frente. Neste mesmo largo, embora com pouca duração, existiu ainda a Associação dos Caixeiros – núcleo dos empregados do comércio de Vila Nova de Ourém – com o seu grupo musical dirigido pelo chefe dos Correios Mariano de Azevedo Melo, o maestro Mosca como alguém, lhe chamou. Aqui existiu também, no bocadinho da rua que liga o largo à nova Avenida, o Centro Republicano, a loja Rito & Nogueira, depois a Piedade Vicente com a sua loiça de barro; e ainda o José Cachola à esquina e o chapeleiro Joaquim Lourenço em frente.

Para cima estendia-se e estende-se “Castela”, hoje ainda quase na mesma, à parte um bairrozinho engraçado junto ao “Pele e Osso”. O Ti Idalino, que era há trinta e tal anos o centro de reunião da rapaziada de “tacão alto”, passou para o Zé Barroia e depois para o Zé Chucha, até que, segundo creio, acabou.

CONTINUA…

No “Noticias de Ourém” a 18/10/1959

2005/06/23

Ourém de Ontem II

Vila Nova de Ourém, 11 de Outubro de 1959.
OURÉM DE ONTEM
Por Joaquim Ribeiro
(Continuação do número anterior)

Mais adiante, ao lado da Igreja, as manas Joana e Gertrudes Guimarães, esta conhecida pela madrinha do género humano, tal a quantidade de afilhados que tinha. Aqui vi e ouvi pela primeira vez um gramofone, que com as suas músicas da época chamava a clientela para a compra de chitas e riscados, ou lenços “cachené”, que o falecido António Lopes, pai do nosso Eng., sempre atencioso, lhes ia oferecendo.

Logo pegada, a velha hospedaria de Maria Joana & Irmã, antes explorada por um homem chamado Relógio, talvez porque era pouco maior de que um relógio de espertador, e que era nessa altura a melhor pensão da terra.

A viúva de Francisco Henriques de Oliveira era ao tempo o estabelecimento mais importante – fazendas, mercearias, depósito de tabacos, padaria e armazém de vinhos e azeites. Três empregados de balcão de certa categoria – o António Vieira já falecido, o José Maria Alves Marques, e muitos outros que foram passando a começar no Lúcio careca ate ao Marçal do Desemprego.

Onde é hoje a loja do Pedro foi o cartório dum escrivão de Direito a sapataria do Manuel Freitas da Silva e por último a casa de jantar do Manuel Augusto de Sousa; mais adiante o seu estabelecimento, ainda há pouco tempo a funcionar, com outro dono claro, exactamente como era no meu tempo de marçano há 50 anos, agravado com os estragos que este meio século naturalmente lhe havia de ter causado. Caixilhos ainda tinha alguns, vidros muito poucos.

A Loja do Povo, nascida do lado da Farmácia Leitão tem passado por modificações várias sempre a melhorar, primeiro um estabelecimento vulgaríssimo, com a escada para o 1. ° andar ao meio e uma porta de cada lado. Agora a casa que todos nós conhecemos, com boas montras, a chegar há esquina da Praça.

Nesta esquina a ourivesaria roubada e entre as duas a oficina de alfaiate do Joaquim Claudino.
Cá ao fundo, à direita da Igreja, o chamado “comboio” com um edifício a topo a que poderíamos chamar a máquina, e uns velhos casebres ate à feira das sardinhas, onde estavam instalados a loja de barbeiro do José Morgado, que só abria às quintas, sábados e domingos; o depósito de caldeiras do Dionísio do Outeiro Grande, que só vinha às quintas‑feiras; e ao fundo o Mariano da Violente que como estes quase também só abria nos dias de mercado para vender a “pinga” e a sardinha assada, ali mesmo juntinho ao marçano das mesmas. Havia ainda a oficina de relojoeiro do Manuel António, que, de bicicleta, vinha todos os dias de Seiça onde morava, mais tarde a do José da Costa – o S. João – e ainda o velho Côxo-Rito, com a sua lojeca limpinha onde à segunda‑feira, dia de descanso semanal do comércio, os empregados jogavam o loto ou a glória. Neste lado havia ainda a taberna do Joaquim Ferrador, a do Lirias e a Farmácia Leitão cá mais acima.

Ao banco do Baleco ficava junto a loja do Francisco Lopes Nunes, que primeiro esteve instalada à esquina da praça, em frente do Sotero, e onde tinha estado estabelecido o Álvaro Mendes e para onde foi depois o Já-Cá-Tá; a seguir a loja de barbearia do Manuel Pereira da Fonte e o consultório do Dr. Alves – casas abarracadas mas mais decentes do que o tapume que, neste lugar, há anos ali se encontra. A seguir ainda outro banco, o do Júlio Alves (antes de ter passado para a rua a que atrás me referi) e a taberna da Júlia Teixeira, com o criado “Punciano” que todas as manhãs ia à loja do Sousa buscar um bote de rapé “rapidamente” porque tinha o café a arrefecer. Esta casa foi a seguir explorada pelas manas Gabriel com uma espécie de café.

Depois passou para o Raul de Oliveira Santos, com a sua oficina de funileiro ao canto, e uma loja de comes – e – bebes, e loiças de esmalte.

No pátio, o jogo da laranjinha e ao fundo o de chinquilho, onde depois das 7 e às segundas-feiras, se passavam horas seguidas rolando as bolas no tabuleiro e disputando a primazia de quem melhor punha uma malha a três tentos.

Mas reatando a digressão pelas ruas e largos da Vila chegamos a Padaria Centrai de Salvador & Sapateirinho, donde o “Pinta Santos” saía todas as manhãs, de cabaz ás costas, a entregar o pão fresquinho ao domicílio, então iniciada, pois até ali quem o queria tinha que o ir buscar ao padeiro. Aqui próximo, onde hoje está a Tipografia Ouriense, estava a loja de barbeiro do falecido Adriano e mais adiante a oficina de relojoeiro do Manuel A, onde o Marinho, vindo da Figueira da Foz, iniciou a sua actividade em Vila Nova de Ourém.

A loja do Sotero, era ao tempo um estabelecimento bens instalado.

Edifício próprio, portas rasgadas e bastaste pé direito, e até tinha escritório, o que nenhum outro possuía, não se usava nesse tempo. O escritório era a própria loja e a secretária o balcão. Bem instalado dizia eu, mas com pouca clientela. Ele, o patrão, ia todos os dias para a antiga vila de Ourém, de onde era natural, e a esposa e o empregado pouco faziam. Às quintas-feiras a coisa animava um pouco e então tinha o Amílcar, que vinha da Carapita para ajudar a aviar os fregueses do mercado.

CONTINUA…

No “Noticias de Ourém” a 11/10/1959

2005/06/22

Ourém de Ontem I

Vila Nova de Ourém, 4 de Outubro de 1959.
OURÉM DE ONTEM
Por Joaquim Ribeiro
Quando foi elaborado o programa das festas do VI aniversário da Casa de Ourém, incluiu‑se nele um ciclo de conferências ou palestras cujos temas versariam sobre a nossa Terra: “Ourém de ontem” – “Ourém de hoje” – “Ourém de amanhã”.
De amanhã não podemos ir além da imaginação, cálculos, suposições, fantasias enfim. Portanto só alguém com visão larga, bastantes conhecimentos, e um pouco de filosofia, disso se poderia encarregar, para que essas suposições ou fantasias não andassem muito longe da verdade.
De hoje, muitos poderão falar, parque não é necessário supor ou fantasiar. Todos nós o conhecemos, mais ou menos, bastando portanto saber escrever, arrumando as coisas melhor ou pior.
Destes subtítulos foram encarregados dois novos, cheios de vontade e saber.
O Zé Galamba com o seu entranhado amor à terra que o viu nascer, sentindo e profundando os seus problemas, vai falar‑nos do presente.
O Sérgio, mais novo ainda e por isso mesmo cheio de ilusões poderá fantasiar, falando‑nos do futuro.
De ontem, do passado contemporâneo, é preciso tê-lo vivido de perto primeiro do que tudo.
Julgo ser eu, de todos os mais ligados à Casa de Ourém, aquele que melhor o conhece, e talvez mais o sinta. E isto não é, por um lado, coisa muito agradável uma vez que, é o mesmo que dizer que sou o mais velho, e esta situação não deve agradar a ninguém.


Joaquim Ribeiro durante a conferência na Casa de Ourém.
Foto retirada do livro de Sérgio Ribeiro
“Nos 50 anos da Casa de Ourém – 1.º volume 1935/1964”, editado pela Som da Tinta.

Até aqui tudo está certo. Eu sei realmente quase tudo que se tem passado em Vila Nova de Ourém há cerca de 50 anos para cá. Alinhavar a coisa de maneira a poder contar‑vos, com o mínimo de enfado, é que se me torna mais difícil. Mas eu não pretendo fazer literatura nem apresentar‑vos trabalho com pretensões a conferência. Desejo sim contar‑vos sobre Ourém o que sei e apenas como sei. De resto, a assistência que me escuta é composta quase na totalidade, por velhas e boas amizades. Sabem até onde posso ir e eu não pretendo ir mais além, para que as deficiências de exposição, e elas hão‑de ser muitas, possam ser desculpadas. Hesitei mas decidi‑me.

Conheço Vila Nova de Ourém desde que me conheço. Nascido ali próximo, no meu Zambujal, já mesmo antes de para lá ir empregar‑me, ali ia às quintas‑feiras ajudar os meus pais a encaminhar os porquitos que iam vender ou comprar ao mercado semanal, ou igualmente nos dias 3 encaminhar as cabras ou os carneiros para a feira mensal.

Qualquer destas se realizavam, como ainda hoje, no Largo de Conde Ferreira, chamado Feira do Mês, e que então não passava da parte hoje ajardinada, estendendo‑se pela rua transversal a poente.

Mas foi em 1912, quando “assentei praça” no comércio em casa do meu saudoso amigo Manuel Augusto de Sousa, e digo amigo porque ele foi realmente sempre mais amigo do que patrão. Foi em 1912, dizia eu, que melhor comecei a conhecer a sede do meu concelho, e ao longo deste quase meio século tenho assistido e sentido toda a sua evolução, sentindo‑me contente quando esta é para, melhor e bastante contristado quando porventura se verifica o contrário.

Embora nós digamos que a nossa Terra está na mesma, que pouco tem progredido, estas afirmações não estão bem certas. Efectivamente o progresso tem sido lento e pouco, se compararmos esse pouco ao muito que nós desejávamos que ela progredisse. Entretanto, se é certo que muito há ainda para fazer, é certo também que bastante já se tem feito.

Digressão pelas belas ruas da Vila, a sua urbanização

A entrada da Vila pelo poente era uma entrada vulgar com umas casas modestas de um lado e do outro, mantendo-se algumas ainda no mesmo estado. Modificações de vulto apenas o armazém de Vicente Rodrigues e o grupo de seis edifícios de 1.° andar, junto da “Fonte Nova”, desaparecida, (não sabemos bem porquê); mais adiante o desaparecimento também, e este felizmente, “do Banco do Senistra”, desaparecendo com ele urna garganta que ali já então dificultava o trânsito. Ao mesmo tempo foi demolida também a velha Casa das Carvalhas, e o pequeno recinto junto dela, a nascente, onde às quintas-feiras as gentes do lado da serra deixavam presos os seus jericos – meio de transporte mais vulgar desse tempo – enquanto iam ao mercado vender as batatas, os ovos, as galinhas ou os coelhos para depois comprarem os remédios e as sardinhas, e ainda arroz café e açúcar, quando tinham alguém doente em casa. Neste lugar edificou-se depois o prédio onde esteve instalado há anos o Café Ourém.

Daqui até à Igreja; esta rua do lado direito encontra-se na mesma.

Da esquerda, pelo contrário, houve certas modificações: logo à entrada desapareceu a oficina de funileiro de João Mendes Leal e o talho da Câmara; da casa hoje de Joaquim Verdasca desapareceu também o banco de ferrador do Júlio Alves; a seguir a oficina de serralheiro do António Balseiro, e à esquina, mais tarde a habitação do falecido José Ezequiel e ultimamente a loja do José Dias destruída por um incêndio,

A chamada Avenida, certamente só parque era a única rua que tinha passeios laterais, estamos a vê-Ia ainda com a Repartição de Finanças e a respectiva Tesouraria e a Estação de Correios e Telégrafos, com a taberna do Manuel da Rafaela em frente, a da Maria da Fonte onde mora agora o Manuel Joaquim Ribeiro, e a da Nalha no gaveto norte. Cá em baixo a cocheira do António Guimarães e a oficina de reparações de bicicletas do Eduardo Beselga, com o “Ezequiel Biché”, de palmo e meio, mas já encarregado; mais abaixo à esquina, dum lado onde está hoje o Marinho, a salsicharia do João Espada e do outro a loja do Albano Ezequiel Vieira, passando para a mercearia do João da Amélia, oficina de sapateiro do Frazão, loja de chapéus e de calçado do Branco, mestre da música da então Charneca, e por fim para a Zé Dias que ali se firmou, até que um incêndio, há anos, o empurrou um pouco mais para cima.

Ao fundo já na outra rua, a loja do António Guimarães, depois agência de passaportes do José Boaventura Marques, oficina de correeiro do Francisco Claudino, e mais tarde, com a demolição do “Comboio”, para o armazém dos Leitões de Leiria.

CONTINUA…

No “Noticias de Ourém” a 04/10/1959

Festejos concelhios a favor do C.R.I.O.

Vila Nova de Ourém, 10 de Agosto de 1979.


A favor do C.R.I.O. – Centro de Recuperação Infantil Ouriense
Grandiosos festejos concelhios
em
Vila Nova de Ourém
AGOSTO DE 1979
ANO INTERNACIONAL DA CRIANÇA

SÁBADO, 18
Com o apoio do Banco Português do Atlântico.
ALVORADA
9h. Os Gaiteiros de Soure percorrem a Vila e arredores.
17h. Rancho Infantil de Fátima.
18h. Filarmónica Ouriense.
21.30h. VARIEDADES:
Rancho de PEREIRA DO CAMPO
CHORUS AURIS INFANTIL
NICOLAU BREYNER
PAULO ALEXANDRE
Baile com O TREVO

DOMINGO, 19
ALVORADA
14h. FANFARRA INFANTIL dos Bombeiros Voluntários da Nazaré a abrir o CORTEJO DE OFERENDAS INFANTIL. Merenda para as crianças.
16h. MISSA CAMPAL, acompanhada pelo “Chorus Auris Infantil”.
Exercícios de demonstração pelos BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS DE V. N. DE OURÉM.
21.30h. VARIEDADES:
Rancho TÁ‑MAR da Nazaré.
GEMINI
CIDALIA MOREIRA
Baile com IPANEMA +2

SECUNDA, 20
ALVORADA
CLASSIFICAÇÃO DAS PINTURAS.
EXTRACÇÃO DOS PRÉMIOS DO SORTEIO.
17h. BANDA INFANTIL de Ribeira Ruiva.
21.30h. VARIEDADES
TONICHA
CARLOS DO CARMO
HERMÍNIA SILVA
Baile com OEDIPUS ORCA BAND


FOGO DE ARTIFÍCIO – EXPOSIÇÃO DE PINTURA INFANTIL E FEIRA DO LIVRO.
Restaurante – Bar – Quermesse – Barraca de surpresas – Pesca – Barraca de Chá.
Entradas e marcações de mesas – M A R 1 N A – Vila Nova de Ourém

No “Noticias de Ourém” a 10/08/1979

Primeira ambulância de Vila Nova de Ourém

A primeira ambulância dos B.V.O.

2005/06/21

Auto-ambulância dos Bombeiros

Vila Nova de Ourém, 31 de Agosto de 1947.

Chegou, finalmente, a esta Vila, no passado dia 23, a auto-ambulância, que os Bombeiros desta Vila adquiriram graças à dotação concedida pelo Fundo do Socorro Social quando da gerência da pasta do Interior pelo Ex.mo Senhor Tenente-Coronel Júlio Botelho Moniz, que, às corporações dos bombeiros, em geral, e em especial à de Vila Nova de Ourém, dedicou o maior carinho, que lhe fica devendo, este grande melhoramento, por intercessão do Ex.mo Senhor Tenente Moreira Lopes.

A nova viatura foi conduzida para esta Vila, desde Gaia, pelo próprio comandante da corporação. Snr. José Maria Pereira, que desde sempre votou à sua aquisição e maior interesse.

Trata-se de um carro de reputada boa marca – um “Dodge” – sobre o qual uma casa da especialidade montou todo um serviço de saúde, duas macas sobrepostas, quanto possível amplas, onde qualquer paciente poderá ser transportado com comodidade e em excelentes condições. Um comprido banco estofado para as pessoas que acompanhem o doente e uma poltrona destinada ao médico, estão colocadas interiormente a um lado e no topo da viatura, respectivamente. Não falta ainda uma pequena farmácia, um lavatório, etc. e um dispositivo que permite aquecer ou arrefecer o ambiente da ambulância conforme as circunstâncias aconselharem.

O carro é todo pintado exteriormente, a vermelho sobressaindo nos dois lados a letras cromadas o seguinte dístico “B. V. de Vila Nova de Ourém”. Nas portas em forte relevo, a águia heráldica do brasão do concelho com os distintivos dos Bombeiros.

A magnífica viatura está lançada num conjunto de belas linhas e pode considerar-se senão a melhor uma das melhores viaturas do país, naquele género.

A Direcção daquela corporação vai realizar festivas solenidades comemorativas do importante acontecimento que representa para a associação e para a Vila e concelho a sua aquisição, para o que está preparando o respectivo programa.

No “Noticias de Ourém” a 31/08/1947

2005/06/16

Hospital de Santo Agostinho

Vila Nova de Ourém, 6 de Janeiro de 1952.

(Clique na foto para ampliar)
Hospital de Santo Agostinho, benemérita instituição a favor da qual se realiza no próximo domingo, um grandioso cortejo. A gravura mostra o belo parque que há cerca de dezena e meia de anos rodeava ainda o magnífico edifício, mas que com mágoa, vimos desaparecer.

No “Noticias de Ourém” a 06/01/1952

Veículos automóveis existentes no Concelho.

Vila Nova de Ourém, 5 de Fevereiro de 1950.

Pelo último manifesto verifica-se que, no Concelho de Ourém, existem 323 veículos automóveis, sendo 38 motociclos, 162 auto-ligeiros e 123 auto pesados (caminhetas e caminhões).

No “Noticias de Ourém” a 05/02/1950

2005/06/15

O Museu Municipal... PARA QUANDO?

Vila Nova de Ourém, 7 de Dezembro de 1984.

O Museu Municipal... PARA QUANDO?

Com alguma frequência se lê e vê, nos meios de comunicação social, informações sobre acções, levadas a efeito em várias zonas do país, tendentes ao levantamento e preservação do património cultural, artesanal e etnográfico da respectiva região. E fazem-no com um respeito e entusiasmo impressionantes. Têm consciência, sem dúvida, da importância do assunto. É que, o património cultural, artesanal e etnográfico representa o esforço, o engenho e o orgulho de um povo. É o que de mais querido esse povo transmite aos seus vindouros. Impõe-se, por tal facto, que os homens do presente o protejam, defendam e respeitem, que é, no fundo, respeitar e defender a sua própria história.

Vem isto a propósito do património histórico, cultural e etnográfico do nosso concelho, que é riquíssimo. Quanto a isto, penso eu, não há novidade para ninguém. Porém, o que a maioria das pessoas, possivelmente, desconhece é que grande parte dele já desapareceu, e o que ainda resta terá, fatalmente, o mesmo destino se não houver alguém que se Interesse pelo assunto. E, o que é lamentável, é que assistimos a isto impávidos e serenos, como se se tratasse de algo que muito pouco ou nada tenha a ver connosco.

Mas, não terá a ver connosco o perpetuar a memória dos nossos antepassados? Caro leitor, isto tem a ver connosco e muito.

No nosso concelho, relativamente a este problema, já algumas vozes se levantaram, inclusivamente já algumas acções foram tentadas, mas tudo isso mais não foi que boas e louváveis intenções, sem resultados palpáveis. Quase tudo, por conseguinte, está por fazer.
A Escola Preparatória de Vila Nova de Ourém encerrou o seu ano lectivo de 1983/84 com uma exposição, bastante publicitária e concorrida, a qual tinha dois objectivos fundamentais: por um lado apresentar o resultado de um trabalho de investigação histórica e levantamento artesanal, levado a efeito pelos alunos, orientados pelos professores. Era um objectivo fundamentalmente pedagógico. Por outro lado pretendeu-se sensibilizar a população e as forças vivas do concelho para a necessidade de se avançar com um trabalho do género, mas muito mais profundo e abrangendo todo o concelho.

A exposição, como disse, foi visitada por bastantes pessoas, porém, quanto às forças vivas, nomeadamente a Câmara, muito poucos elementos a visitaram. E isto é grave, pois, parece-me que é à Câmara, em primeiro lugar, à semelhança do que acontece em outras autarquias, que compete apoiar, estimular, levar a cabo e suportar economicamente o levantamento histórico, artesanal e etnográfico do concelho. Mas, feito com dignidade e com a garantia de um trabalho em profundidade. Ou seja, impõe-se que seja feita a prospecção do espólio existente, proceder-se de seguida, à sua inventariação e respectivo registo, fazendo-se, posteriormente, a recolha desse precioso espólio cultural e etnográfico.

É evidente que isto exige a criação imediata de um museu municipal, onde esse espólio permaneça, devidamente acondicionado e referenciado, transformando-se em lição viva e permanente da história do nosso concelho.

Isto não é tão difícil como isso, até porque a Câmara tem o pelouro da cultura. É no entanto, imperioso que esse pelouro seja dado a um vereador com coragem, amor à cultura e história do concelho, e, também, tenha uma perspectiva de futuro. Necessita, como é evidente de meios, nomeadamente económicos, para trabalhar.

Uma coisa é certa, existem pessoas dispostas a sacrificar o seu já pouco tempo disponível e investi-lo na consecução deste objectivo.

É tempo de os responsáveis autárquicos aos tomarem consciência que o homem é um misto de corpo e espírito, sendo este a parte nobre do homem.

Impõe-se, por conseguinte, avançar com o levantamento cultural, artesanal e etnográfica do concelho.

É urgente a criação do um museu municipal.

Não tenhamos dúvidas, os homens de amanhã julgar-nos-ão pelo que hoje fizermos, e serão impiedosamente críticos no que, por incúria, deixarmos de fazer.
Investir na cultura é apostar no progresso de um povo. É, em suma, semear para colher.

J. F.

No “Noticias de Ourém” a 07/12/1984

2005/06/14

Vão ser demolidos alguns prédios da Praça da República com vista à sua urbanização

Vila Nova de Ourém, 27 de Janeiro de 1952.
Dentro de poucos dias vão principiar os trabalhos de demolição dos prédios que a Câmara possui na Praça da República, mais conhecida por Largo da Igreja ou Praça dos Cereais. São eles os imóveis onde presentemente se encontram alojados o Núcleo da Legião Portuguesa, Banda de Vila Nova de Ourém, Oficina de Aferições e Serviços de análise de leite, isto é lado o extenso quarteirão situado entre as ruas Gago Coutinho e Sacadura Cabral, ao fundo do referido largo, com excepção do prédio onde está o estabelecimento de mercearias do senhor Joaquim Espada. A demolição deste último prédio está, como não podia deixar de ser, também prevista; no entanto, a sua efectivação fica adiada para mais tarde.
(Clique na foto para ampliar)
- A Praça da República em dias de mercado, há 20 anos. -
Principia assim a grande obra, que de há muito se impõe e por que a Vila tanto aspira, da urbanização do largo. É que do projecto respectivo faz parte a construção de uma extensa plataforma ou terraço que, prolongando‑se ao nível do plano em que assenta a Igreja Matriz, até interceptar a estrada nacional que vem de Torres Novas, inutilizará esta para o trânsito advindo daí a necessidade da seu desvio, que uma vez autorizado pela Junta Autónoma de Estradas, a Câmara vai executar. Esse desvio será feito um pouco obliquamente por detrás do quarteirão de casas referido, e entrando depois no largo dos cereais, pisará exactamente o local onde se encontra a oficina de aferições.

O novo arruamento segue depois, paralelamente à Farmácia Viúva Leitão no sentido do Largo Marechal Carmona.

Por motivo das demolições apontadas, a Banda irá ocupar uma das salas na antiga escola feminina, à Avenida, que a Câmara lhe cede a título provisório até que este edifício seja adaptado a outros serviços, presumivelmente a posto da Polícia de Segurança Pública. O serviço de Aferições deverá ser alojado, no Largo Rodrigues Sampaio, nos baixos do depósito da água.

Devemos ainda esclarecer que o desvio da estrada nacional que vai fazer-se por detrás do edifício da Banda não constitui um arranjo provisório, pois trata‑se nem mais nem menos do que um arruamento previsto no plano de urbanização da Vila e, portanto, definitivo. Este arruamento será, naquele local, o que, julgamos nós, enfrentará o futuro mercado fechado, obra que muito também se impõe pelo que a ela voltaremos num dos próximos números.

No “Noticias de Ourém” a 27/01/1952

Edital

Vila Nova de Ourém, 28 de Janeiro de 1951.

Edital
Junta de Freguesia de V. N. Ourém
Recenseamento eleitoral dos che­fes de família

Manuel Maria de Sousa, Presidente da
Junta de Freguesia de Vila Nova de Ourém:

Faz público nos termos e para os efeitos do disposto no Código Administrativo de 31 de Dezembro de 1940, que a partir de 1 de Fevereiro e até ao dia 15 de Março, poderão os chefes de família requerer a sua própria inscrição ou a de terceiros no recenseamento eleitoral desta Freguesia, se uns ou outros, reunindo as condições de capacidade eleitoral, não estiverem inscritos.

Têm capacidade eleitoral e como tal podem ser inscritos no recenseamento:

1.º ‑ O cidadão português com família legitimamente constituída, que com ele viva em comunhão de mesa e habitação e sob a sua autoridade;

2.º - A mulher portuguesa, viúva, divorciada ou judicialmente separada de pessoas e bens, ou solteira, maior ou emancipada, quando de reconhecida idoneidade moral, que viva inteiramente sobre si e tenha a seu cargo ascendentes, descendentes ou colaterais;

3.º - O cidadão português maior ou emancipado com mesa, habitação e lar próprios.

Para constar se passou este e outros de igual teor que serão afixados nos lugares do estilo e publicado no jornal local.

Vila Nova de Ourém, 15 de Janeiro de 1951
O Presidente
Manuel Maria de Sousa

No “Noticias de Ourém” a 28/01/1951

2005/06/09

Rua Teófilo Braga

Vila Nova de Ourém, 10 de Fevereiro de 1952.


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Se não fosse o velho candeeiro a petróleo que se vê na esquina do prédio, da Rua Teófilo Braga, e o altaneiro cedro, amostra do belo parque que outrora rodeava o Hospital, ninguém diria que esta gravura tem três ou quatro dezenas de anos.

No “Noticias de Ourém” a 10/02/1952

Violento incêndio

Vila Nova de Ourém, 6 de Março de 1938.

Na noite de quinta para sexta‑feira foi a população desta Vila alarmada com o toque de sinos a rebate motivado por um violento incêndio, que se manifestara num prédio sito à Praça da República, pertencente ao Sr. Joaquim Vieira Verdasca, e do qual é inquilino o Sr. Agostinho Roque, professor oficial nessa Vila. Este senhor, sua família e ainda duas criadas, dormiam profundamente, quando algumas pessoas que se dispunham a seguir para a estação de Chão de Maçãs onde iam tomar o comboio das 4 horas da madrugada, lhes foram bater desesperadamente à porta, avisando-os do perigo que corriam. Altas labaredas devoravam já nessa ocasião, com sanha destruidora, o vigamento do telhado, e lambiam numa ameaça sinistra, as paredes dos prédios vizinhos, dando a impressão que, dentro em breve, tudo ficaria reduzido a cinzas e escombros. Foi então que surgiram, numa vaga de esperança, os Bombeiros Voluntários desta Vila, no seu “Pronto-Socorro”, para dar início, prestos e ousados, à nobre tarefa de socorrer vidas e haveres em perigo. E foi com a maior satisfação que constatámos que os briosos rapazes, auxiliados pelos populares, se portaram à altura das suas responsabilidades, dominando a catástrofe com tal galhardia, que, em poucos minutos, o incêndio estava localizado e, pouco depois, extinto. Vê-se portanto – o que aliás sempre temos frisado – que dentro da Corporação dos Bombeiros existem elementos de in­discutível valor, que é preciso aproveitar, enquadrando-os de vez num conjunto harmónico e disciplinado, capaz de criar à volta da benemérita colectividade o denso ambiente de confiança e carinho a que, a sua nobre missão, tem direito. Repetimos – sem a sua eficaz intervenção, Ourém teria agora a lamentar importantes prejuízos materiais, senão até a perda de preciosas vidas. Bem hajam por isso.

No local do sinistro compareceram ainda no seu “Pronto-So­corro” os Bombeiros de Tomar, que não chegaram a prestar serviço por motivo da rapidez com que o incêndio foi dominado pelos Bombeiros locais, No entanto causou a mais viva admiração a ma­neira rápida e solícita como a valorosa corporação da vizinha cidade correspondeu ao aflitivo apelo que lhe foi feito, pois não mediou mais do que um escasso quarto de hora entre a chamada telefónica e o aparecimento dos Bombeiros Tomarenses, no local do incêndio.

Os prejuízos do Sr. Prof. Roque, são computados nalguns milhares de escudos – em azeite e mobiliário inutilizado; os do proprietário do prédio, Sr. Joaquim Verdasca, estão cobertos pelo seguro.

No “Noticias de Ourém” a 06/03/1938

O novo colégio

Vila Nova de Ourém, 3 de Novembro de 1946.

Abriu as suas aulas, no passado dia 28 o colégio que, por iniciativa do Senhor Dr. António Vieira, acaba de se fundar nesta Vila. O novo estabelecimento de ensino conta já um razoável número de educandos de ambos os sexos e funciona num prédio situado na Rua Dr. Bissaia Barreto e Avenida D. Nuno Álvares Pereira.

Fazemos votos pelo desenvolvimento da jovem instituição que tão desejada era para uma Vila e concelho que bem pode mantê-la e faze-la prosperar a bem da sua mocidade e como garantia da formação do escol da sua população.

No “Noticias de Ourém” a 03/11/1946

As casas dos Magistrados

Vila Nova de Ourém, 14 de Junho de 1964.

Por despacho ministerial, de 29 Maio findo, foi concedido ao Município de Ourém, um subsídio de 300.000$00 destinado à construção das casas dos magistrados, cuja localização e projecto já foram aprovados pelo Ministério da Justiça e Câmara Municipal.

O local, conforme já referimos oportunamente, é o do gaveto sudoeste da Praça D. Maria II (Feira do Mês), abrangendo uma grande área, com frentes portanto para a rua sul daquela Praça e para a rua ao lado do Jardim Municipal. Ao que parece tanto este Jardim como o restante do largo da feira serão arborizados e urbanizados de maneira a enquadrarem convenientemente a nova e interessante construção.

No “Noticias de Ourém” a 14/06/1964

2005/06/08

Praça Dr. Agostinho Albano de Almeida

Vila Nova de Ourém, 17 de Fevereiro de 1952.

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A Praça Dr. Agostinho Albano de Almeida ou simplesmente a “Praça”, como há 40 anos era pelo vulgo designada, não apresentava como esta gravura de então mostra o aspecto garrido e moderno que hoje oferece. Em vez de duas placas ajardinadas e de passeios pavimentados a pedra miúda, existia apenas um terreiro a toda a extensão do recinto, de piso arenoso e contorno poligonal irregularíssimo, marcado por um velho lancil gasto pelo uso. Quanto aos prédios laterais a modificação não foi profunda. Simplesmente o actual edifício do Café Central veio substituir a arruinada construção que se vê junto da agência da Caixa Geral de Depósitos.

No “Noticias de Ourém” a 17/02/1952

Síntese

Vila Nova de Ourém, 22 de Junho de 1952.

OURÉM!...
Torrão tão santo,
Tão cheio de ternura e de beleza,
Tu tens em cada canto
Da verdadeira Alma Portuguesa!
O teu nome convida a recordar
As páginas brilhantes da História!...
Onde vives gentil, e a palpitar,
Na grandeza eterna da sua glória!...
O teu Castelo, guarda santamente
As relíquias da tua fidalguia,
Como se toda a ALMA LUSITANA
- Que a todos nos irmana –
Adormecesse em tua companhia…
OURÉM!...
O teu passado nobre e triunfal
De intangível nobreza,
Levanta! Ergue! Sublima Portugal!
Como se fosse um pendão real
Gravado na Bandeira Portuguesa!...


Acácio Gomes de Souto

No “Noticias de Ourém” a 22/06/1952

2005/06/07

Nem tudo muda…

Vila Nova de Ourém, 3 de Fevereiro de 1952.

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A antiga Rua Beresford, não sabemos porquê, transmitiu à sua vizinha Travessa da Igreja, o nome de Belford.

Chamaram-lhe depois Rua 5 de Outubro e agora de Carvalho Araújo.

É ainda hoje o que era há 40 anos, como esta gravura de então, mostra.

Isto é… só toponimicamente mudou.

No “Noticias de Ourém” a 03/02/1952

Lista Telefónica da Vila

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No “Noticias de Ourém” a 01/09/1946

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No “Noticias de Ourém” a 20/12/1953

“Moinho de Vento”

Vila Nova de Ourém, 8 de Novembro de 1964.

A Comissão Regional de Tu­rismo adquiriu há tempos – e muito de louvar é a sua deci­são - o moinho que se alcan­dora no cabeço que, a norte da Vila, lhe tomou o nome.

Evitou-se, desse modo, a sua venda a entidade que o menosprezasse ou demolisse, fazendo assim desaparecer a sua silhue­ta de gracioso monumento rús­tico, tão característico da pai­sagem portuguesa.

O "Moinho do Vento", que todos conhecemos e estimamos, pois todos ou quase todos, em rapazes, ali fizemos frequentes digressões e diabruras, e aspirámos a pureza dos ares, e bem o ex-libris de Vila Nova, como o Castelo o é de Vila Velha – salvas, é claro, as devidas pro­porções.

A sua aquisição obedeceu certamente senão a fins turísti­cos imediatos, pelo menos à sua futura adaptação a casa de chá ou semelhante, para re­pouso e miradouro de quem ascendesse àquelas alturas – duma riqueza panorâmica que não fica muito aquém da que é título de orgulho da antiga Vila.

Mas parece ter caldo no esquecimento a velha construção, pois segundo nos vieram dizer, as portas caíram e o telhado ameaça ruir, não falando já das velas e sua possante armadura, de há muito desaparecidas.

Oxalá providências sejam tomadas, para que não tenhamos em breve de lamentar, olhando o local: “...e tudo o vento levou...”

No “Noticias de Ourém” a 08/11/1964

Secção Desportiva

Vila Nova de Ourém, 18 de Outubro de 1985.

Vilarense,0
C. A. Oureense, 2

Jogo disputado no campo do Operário em Vilar dos Prazeres.

Sob o comando do árbitro José Estríga auxiliado pelos fiscais de linha C. Cu­nha e F. Neves, as equipas alinharam da seguinte forma:

VILARENSE: - Arrojado, João Fre­derico, F. Carlos e Beto; José Alberto, Pina e Vieira; Arnaldo, Toni e Chico. Su­plentes: João, Paulito, Real, Rui e Sebastião.

OUREENSE: — Ramalho; Espanhol, Tó, Rui Fortes e Dinis; Jorge S., Tomé e César; Vareta, Lili e Carlitos. Suplentes: Chalana, Jorge e Picoto.

Substituições: Por parte do Vilarense, entraram Real (aos 45 m) e Paulito (aos 75 m) para os lugares de Francisco Car­los e Chico respectivamente. Por parte do Atlético, entraram Chalana e Jorge (aos 45m) para os lugares de Carlitos e Lili respectivamente.

Os desafios entre estas duas equipas, são sempre de resultado imprevisível; tra­ta-se de um derby local, razão pela qual não nos surpreendeu a numerosa assistência que acorreu ao campo do Operá­rio.

Foi, na verdade, curioso assistir a este derby que teve duas partes completamente distintas. Na primeira, assistiu-se a um futebol aberto com ambas as equipas a tentarem aproximar-se da baliza contrária, sendo assim que, aos doze mi­nutos, Carlitos concretizou da melhor forma uma boa jogada de combinação, obtendo o primeiro golo da partida para o Atlético. Este golo pareceu-nos ter sido obtido de forma irregular (fora de jogo), mas o juiz da partida, bem colocado, não teve dúvidas em validá-lo.

A parada e resposta continuou a ser a tónica do jogo; aos vinte e cinco minu­tos, na marcação de um livre, César obrigava o guarda-redes do Vilarense a efec­tuar uma magnífica defesa, mas no minuto seguinte e após uma boa jogada de Arnaldo o Vilarense poderia ter chegado ao empate, mas a bola passava ao lado do poste direito da baliza defendida por Ramalho. Nesta altura e equipa local evidenciava um certo ascendente e quando se esgotaram os primeiros 45 minutos de jogo, pelo que se passou no terreno, merecia ter ido para o intervalo com a partida empatada.

No início da segunda parte, assistiu-se a uma forte reacção do Vilarense, como era de esperar, na tentativa de marcar o golo da igualdade. Entretanto o Atlético, com uma defesa bem escalonada e com determinação resolvia todas as situações, ao mesmo tempo que lançava perigosos contra-ataques. E foi na sequência dum destes contra-ataques que surgiu o segundo golo do Atlético; Frederico fez falta dentro da grande área sobre Chalana e o árbitro apontou a marca da grande penalidade. Chamado a marear o castigo máximo, Rui fortes não perdoou.

Com o resultado em 2-0, o jogo ainda que continuando no mesmo estilo, tornou-se um pouco incaracterístico.

No cômputo dos noventa minutos o resultado aceita-se perfeitamente, premian­do a melhor equipa no terreno - o Atlé­tico - que pelas oportunidades criadas não escandalizaria muito se tivesse saído de Vilar dos Prazeres com um resultado histórico.

Salientaram-se neste derby: Pela equi­pa do Vilarense, Pina, João e Vieira. Pe­la equipa do Atlético, Tó, Rui Fortes, Carlitos e Tomé. Arbitragem: bastante irregular.

Outros Resultados
Seiça, 0 – Matrena, 2
Alferrarede, 2 – Vasco da Gama, 0
No “Noticias de Ourém” a 18/10/1985

2005/06/06

Café-Restaurante Avenida

Vila Nova de Ourém, 5 de Abril de 1953.
Acontecimento Local
A abertura, no passado dia 1, do novo Café-Restaurante situado na Avenida de que foi buscar a designação, constituiu um acontecimento local que plenamente se justifica se considerarmos que se trata de um estabelecimento novo no género de serviço misto de café e restaurante, e que as suas decorações e instalação são de um cunho regional muito curioso e interessante.

Tem jus ao reconhecimento dos ourienses, os proprietários da nova casa, que dotaram a Vila de um centro de cavaco que reúne condições de comodidade e de beleza nada vulgares em estabelecimentos desta categoria e que além disso se apresenta como salão-restaurante com esmerado serviço, e é óptimo factor, portanto, de turismo de que a terra bem precisava.

Deu especial nota de elegância e distinção a abertura do café, a assistência de muitas senhoras que certamente atraídas pelo bom gosto e comodidade do local se habituarão a dar-lhe a nota gentil da sua presença.

No “Noticias de Ourém” a 05/04/1953

Um interessante aspecto do “Avenida”, o novo e magnífico Café-Restaurante da terra. No topo, a dominar a sala, vê-se o brasão ouriense, artisticamente modelado. À direita da gravura, o mapa do Concelho.

No “Noticias de Ourém” a 17/05/1953

Damos hoje outro belo aspecto do “Avenida”: a entrada do acolhedor recanto destinado a restaurante, a que dá acesso o decorativo e bem lançado arco que a gravura mostra.

No “Noticias de Ourém” a 24/05/1953

Outro aspecto do vasto e elegante salão do Café-Restaurante Avenida, desta Vila.

No “Noticias de Ourém” a 31/05/1953

Damos hoje outro bonito aspecto do Café-Restaurante Avenida, o elegante estabelecimento que honra Ourém.

No “Noticias de Ourém” a 07/06/1953

2005/06/05

Prospecto


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2005/06/03

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Vila Nova de Ourém, 10 de Agosto de 1933.


No “Noticias de Ourém” a 10/08/1933

Ourienses em Ourém

Vila Nova de Ourém, 2 de Setembro de 1956.

Há cerca de um ano escrevi neste jornal um artigo a que dei o cabeçalho “Internacionais e Olímpicos em Ourém”. Era o Sport Lisboa a Saudade que nos visitava com toda uma plêiade de atletas famosos, de grandes jogadores do passado.

Agora não são internacionais, nem olímpicos, nem jogadores de futebol, são ourienses animados por um sopro de boa vontade. Agora não se vai ouvir o grito: “aquele é ó Espírito Santo”; “olha o Xavier e o Gaspar Pinto”; “aquele além que fintou quatro é o Albino”, mas ouvir-se-á: “aquele é o José Afonso”; “olha o médio que é do Vale Travesso”; “e aquele que esta a dar barraca é do Zambujal e aqueloutro de óculos é o Armelim do Olival”; “coitadinhos, jogam ainda menos que os de cá”, etc., etc.

O tempo agora parece que custa mais a passar e acontece-nos o mesmo que aos internacionais de futebol que estão semanas de estágio a pensar, em 90 minutos. Nós estamos também semanas que parecem meses a pensar num dia que parecerá uma hora.

Depois do futebol virá a gincana e de Lisboa os volantes são quase todos estreantes. Mais uma prova de confraternização, de pura confraternização, mas que terá, certamente muito interesse, já pela pessoa que a organiza, já pelos “espadas”, que concorrerão.

Sejam quais forem os resultados, se tudo tiver corrido bem, a Secção Desportiva e Recreativa da Casa de Ourém voltará para Lisboa satisfeita por se sentir útil à causa do regionalismo.

O programa estabelecido tem a seguinte sequencia:

Às 10 e 30: chegada da comitiva ida de Lisboa;
Às 11: jogo no Lagarinho entre a Secção Desportiva e Recreativa da Casa de Ourém e o Clube Atlético Ouriense; depois almoço de confraternização e às 16 gincana de automóveis.

Como último desejo o de que esse dia 9, que nos parecerá uma hora, fique para sempre na saudade dos ourienses.
S.R.
No “Noticias de Ourém” a 02/09/1956

2005/06/02

O Parque da Vila

Vila Nova de Ourém, 18 de Março de 1962.

A Junta Regional de Turismo, que tem a sua sede em Leiria e na qual o concelho de Vila Nova de Ourém se encontra integrado, tomou sobre si o encargo do arranjo do Parque da Vila, pelo que já não podemos ter dúvidas de que este importante melhoramento vai ser, dentro em pouco, um facto.

Entretanto os Serviços Técnicos da Câmara já ali plantaram 3.000 árvores e numerosos arbustos.

Impõe-se que o público respeite o trabalho já ali realizado com­ tanto esforço, usufruindo os benefícios da vasta área posta à sua disposição, não danificando e defendendo até o logradouro que vai ser regalo de novos e velhos.

No “Noticias de Ourém” a 18/03/1962

O acesso ao Castelo

Vila Nova de Ourém, 24 de Fevereiro de 1963.

A junta de Freguesia de Ourém mandou elaborar o projecto da construção de uma estrada de características municipais, que ligará aquela antiga vila à estrada nacional 356, que de Fátima segue para Vila Nova de Ourém, junto ao cruzamento da estrada da Atouguia.

Ao que parece esse projecto, da autoria de técnico competente, obedece não só à finalidade de servir o interesse geral, mas especialmente o turismo, pois a nova via atravessando uma região que a História enche de pergaminhos, desvendará horizontes dos mais lindos e vastos e facilitará o acesso ao Castelo de Ourém dos inúmeros visitantes e peregrinos de Fátima.

Esta obra está orçada em cerca de 1.400 contos. A Comissão Regional de Turismo certamente lhe prestará a sua melhor colaboração e interesse.

No “Noticias de Ourém” a 24/02/1963

2005/06/01

Homenagem ao Senhor Prof. António de Oliveira


Vila Nova de Ourém, 25 de Junho de 1950.

Quase meio século de magistério
O Senhor Professor António de Oliveira recebeu, no passado dia 10 em Lisboa na Sala Portugal da Sociedade Geografia, em sessão pública, um justo prémio pelo seu longo e proficiente labor ao serviço da causa sagrada da instrução. Depois de 45 anos de magistério ininterrupto, na árdua tarefa de iluminar cérebros pequeninos de moldar almas para a grande peleja da vida, o bom mestre teve alfim merecido galardão do seu saber, operosidade e dedicação profissional. Das mãos do mais alto Magistrado da Nação, recebeu as insígnias que são o testemunho do muito apreço por essas qualidades.

Brilha-lhe, pois, desde esse dia, no peito largo e generoso de trabalhador esforçado, uma condecoração de alto valor – a Veneranda Ordem da Instrução Pública – em cujo grau de cavaleiro foi solenemente investido, a par de outros colegas, que, em reduzido número, rigorosamente escolhido, ali foram também homenageados, uma solenidade de rara grandeza e emoção.

No ano já longínquo de 1899, há cinquenta e um ano pois, concluído brilhantemente o curso na Escola Normal de Lisboa, o então jovem pedagogo, chegou a Vila Nova de Ourém. O velho edifício Conde Ferreira ouviu-lhe as primeiras lições e, à parte pequeno interregno durante o qual leccionou numa velha casa portuguesa, hoje remoçada, ali para os lados do Regato, toda a sua vida escolar decorreu naquele no vetusto edifício, donde só saiu depois de aposentado.

Durante quase meio século por ali passaram, sob a sua proficiente direcção pedagógica, centenas e centenas de rapazes que depois foram ocupar, na vida, funções de médicos, advogados, farmacêuticos, professores, isto de entre os que seguiram estudos superiores ou médios, pois outros há que são hoje também figuras de relevo no comércio, na indústria, na agricultura. Do seu primeiro curso nesta escola fizeram parte, por exemplo, o hoje desembargador da Relação de Lisboa, Doutor Sousa Pinto e o Engenheiro Director da Circunscrição Florestal de Coimbra, Augusto Barjona de Freitas.

Se Ourém não viu nascer o professor Oliveira, pois essa honra cabe, a Sesimbra, assistiu ele ao desabrochar para a vida de quase todos os que hoje formam a população da Vila e de muitos outros dispersos por longes terras.

Por isso ouriense se considera e como tal o reputamos, tanto mais que do coração sabemos de há muito que o é.

Não só como professor, Ourém lhe deve serviços inestimáveis; também corno pessoa de escol, para o elenco dirigente de órgãos administrativos locais, a sua colaboração tem sido várias vezes solicitada e se fez sentir, marcando sempre criteriosamente e com dignidade o seu lugar,

De uma austeridade doseada com bondade mas amigo dos seus alunos, interessava-se por todas as particularidades da sua vida e sobretudo pelos seus triunfos e reveses, que depois os acompanhavam pela existência fora, exultando com aqueles e compungindo-se com estes. Criou-se assim justamente uma auréola de amizade e de prestígio que as sucessivas gerações que ensinou e educou fizeram adensar à sua volta.

Nas aulas fazia-se respeitar e estimar ao mesmo tempo. Sabia ministrar disciplina, sem amordaçar as naturais explosões do sangue moço. Para tudo havia tempo – dizia.

Nenhum dos seus antigos alunos recorda, hoje com azedume a palmatoada da praxe dada sempre com propriedade, nem o cachação brando e amigo com que afagava algum mais endiabrado e fugidio que passava ao alcance da mão. Todos relembram com saudades e gratidão as suas lições de mestre competente e dedicado, a paternal solicitude e bonomia com que, os atendia. Se algum, mais mimoso, ensaiava berreiro ao contacto da palmatória justiceira, logo o animava dizendo: “Não te apoquentes rapaz, tens a pele muito fina, por isso repassou tão depressa”. E o miúdo acabava por sorrir.

Se o barulho ia a mais pelas bancadas, então batia duas, reguadas fortes na beira da secretária e impunha, irónico; “Só quero que me deixem ouvir a pêndula do relógio”. E se, esquecida, pouco depois, a intimativa o ruído voltava a imperar na sala, insistia, sorrindo: “Então vocês não me deixam ouvir a pêndula do relógio? É só por cinco minutos…” E o silêncio restabelecia-se finalmente.

O seu espírito de justiça ressalta no seguinte episódio: Um dia, depois de ter dito ao seu auditório infantil que queria silêncio, que “não desejava ouvir outra coisa que não fosse a pêndula do relógio”, sentou-se à secretária e embrenhou-se em qualquer serviço que reclamava a sua melhor atenção. O silêncio fez-se, de facto. O tic tac sincrónico do velho relógio pontificava na vasta sala. O mestre sentado, à secretária, absorvera-se no trabalho. A rapaziada estudava, ou fingia. Nisto, um deles, menino bem comportado e por sinal de boas famílias, levanta-se e apontando para um condiscípulo que próximo cochichava com outro, acusou: “Senhor Oliveira, Fulano está a falar.” O bom professor, despertado assim bruscamente do seu labor, fitou o repreensivo e pronto sentenciou: “Pois quem eu ouvi toste tu e não ele. Anda cá.” E aplicou ao acusador o castigo que havia cominado para a eventualidade da infracção.

Tudo isto nos veio à memória ao termos conhecimento da homenagem que o Senhor Professor Oliveira recebera do Governo da Nação. Recordando alguns passos da sua vida de mestre exemplar e de homem de bem, associamo-nos do mais íntimo, embora mal-alinhavadamente, a tão justa consagração. E connosco está – sabemo-lo – toda a falange imensa dos que dele receberam proveitosos ensinamentos. Connosco está, afinal... Vila Nova de Ourém.

No “Noticias de Ourém” a 25/06/1950