2005/10/28

Um projecto grandioso

Pensa o Sr. Presidente da Câmara em promovê‑lo, segundo no‑lo afirmou, centralizando num edifício único e majestoso, todas as repartições públicas concelhias e comarcas. Para isso e segundo o anteprojecto presentemente em elaboração na Repartição dos Serviços Técnicos de Engenharia, que tivemos ocasião de apreciar e admirar, será aproveitado o actual edifício dos Paços do Concelho, cuja elegância e nobreza de linhas, mesmo nas actuais proporções, se impõe, e levantar‑se‑á outra construção igual, ligada àquela por um corpo central, no mesmo estilo, de modo a que o portão principal fique no topo do eixo do prolongamento da rua Alexandre Herculano.

Será neste corpo central, onde ficará situada a entrada nobre do edifício, que se localizará a sala das sessões de muito maior amplitude do que a actual. Uma escadaria monumental de belo traçado, toda de cantaria inclusive a balaustrada, dará acesso a essa sala. Na parede ao fundo da escadaria e para iluminação desta, será colocado um vitral tendo desenhadas e heraldicamente coloridas as armas do concelho.

O edifício que se estenderá assim, desde a Escola Conde Ferreira até muito próximo da Cadeia, medirá cerca de 80 metros. O corpo central, no mesmo estilo da construção existente mas a destacar‑se encimado por um frontão brasonado de maiores proporções do que os dos corpos laterais, terá de comprimento cerca de 12 metros.

No imponente edifício ficarão acomodados com largueza, decência e comodidade para o público e funcionários, não só os serviços municipais e judiciais, como ainda a Secção de Finanças, Tesouraria da Fazenda Pública, Conservatórias do Registo Civil e Predial, Posto da G. N. R., etc.

O largo fronteiro será possivelmente todo ajardinado de harmonia com o plano geral da obra.

O edifício da cadeia, uma vez livre do Posto da G.N.R., poderá melhorar as suas deficientes instalações.

A realização desta obra – perfeitamente exequível segundo o plano traçado de ser financiada com a comparticipação do Estado e com a obtenção dum empréstimo, pelo que apenas acarretará para o Município o encargo, durante alguns anos, de umas dezenas de contos – é um incontestável melhoramente que dignificará o concelho e principalmente a sua sede, melhoramento que aliado a um outro já definitivamente encaminhado – o abastecimento de águas –, marcará uma época de rasgado engrandecimento local.

Oxalá, portanto, que em breve vejamos o inicio das obras de ampliação dos Paços Municipais que serão depois de concluídos dos mais grandiosos de Portugal

No “Noticias de Ourém” a 06/09/1942.

2005/10/27

Castelo de Ourém

Vão recomeçar no próximo dia 1 de Abril, as obras de restauro deste interessantíssimo monumento. O que ali já se fez para sua conservação e valorização como documento histórico e arquitectónico, é de molde a garantir-nos um ressurgimento que há-de deslumbrar quem de futuro o visite.

Urge que se pense agora no conveniente arranjo da estrada de acesso ao velho burgo, pois a que presentemente o serve é de fazer retroceder os menos timoratos em escaladas dificultosas.

E que interessante não seria que na antiga Vila, hoje quási abandonada de população, se construísse uma daquelas “pousadas” que o Secretariado da Propaganda Nacional tomou a iniciativa de instalar em várias terras do País para acomodação e conforto do turista que as visita!

É bom lembrar que não só o castelo e outros monumentos atraem o curioso, o artista e o patriota; também o panorama que dali se abrange é qualquer coisa que assombra.

No “Noticias de Ourém” a 30/03/1941.

2005/10/25

Banda - 1939

Excursão a Lisboa, na realização do 5.º almoço ouriense em Lisboa. 21051939

2005/10/18

Desporto - Bombeiros - 1957


Jogo de futebol, realizado em 1957, em Leiria entre os grupos
desportivos dos Bombeiros Voluntários de Ourém e de Leiria.

2005/10/17

Nomenclatura dos largos e ruas da vila

Assinante do Notícias de Ourém desde o seu primeiro número, assinante e leitor (e às vezes modesto colaborador) que não é bem a mesma coisa, pois o leio sempre de ponta a ponta, e por vezes até os anúncios que não interessam, li também agora, e com particular atenção, a notícia dos nomes a dar às ruas e largos existentes em Vila Nova de Ourém e ainda aquelas já projectadas. Acho que tudo esta bem.

Os meus conhecimentos da história não vão além da contemporânea – do meu tempo – mas tenho ouvido dizer que foi a Rainha D. Maria II quem elevou à categoria de vila a antiga Aldeia da Cruz; que Santa Teresa de Ourém foi canonizada pelo povo, sendo, segundo creio, a única santa nossa conterrânea, e minha mais ainda pois nasceu no meu Zambujal, onde tem a sua capelinha, com uma lapide com as datas do seu nascimento e morte, e onde todos os anos se realiza uma festa em sua honra; que Afonso Gaio foi um poeta e dramaturgo que honrou a terra onde nasceu; que D. Manuel II foi Conde de Ourém, título que sempre usou de preferência a outros que possuía; e aqui já com conhecimento directo – sei também que o Tenente – Coronel Mariano Moreira Lopes é um heróico oficial superior do nosso Exército e um grande amigo dos ourienses e da nossa terra, que é também a sua; que o poeta Acácio de Paiva foi e continua a ser um nome brilhante nas letras portuguesas e que o amor por Ourém ficou demonstrado por mil e uma atitudes desde a referências em muitos dos seus versos à nossa terra, à sua comparência nas manifestações de regionalismo, onde esteve sempre presente; que o Dr. Joaquim Francisco Alves, o benemérito Dr. Alves foi uma figura inconfundível de prestígio e de bondade que dedicou uma vida inteira aos pobres do nosso concelho, ficando assinalada a sua assistência regular durante o período da “pneumónica” quando único médico na sede do concelho quase lhe não sobrava tempo para o descanso indispensável; oferecendo o terreno para a edificação da Casa da Criança, legando ainda, por sua morte, bens que garantem à sopa dos pobres um certo desafogo; e os Bombeiros, para quê falar deles?! Os serviços prestados são de tal monta que vão muito além de tudo que deles se possa dizer.

Pois bem, tudo está certo mas em meu entender incompleto.

Estranho, estranho e lamento não ver englobado nesta lista de nomes a homenagear afixando-os nas ruas e largos da Vila, mais um – o de Artur de Oliveira Santos. Este não foi poeta nem escritor, mas podemos dizer que foi jornalista, pois muito colaborou na imprensa regional nomeadamente no “Notícias de Ourém”, depois de há muitos anos – em 1908 e depois em 1913 – ter fundado e dirigido dois semanários em Vila Nova de Ourém. Não foi santo nem benemérito, por falta de vocação e de recursos económicos. Entretanto se considerarmos benemerência as dádivas do coração ele foi-o, na realidade também.

Mas o que ele foi sobretudo, tanto como muitos e mais do que muitos outros, foi um ouriense cem por cento amigo da sua terra, cem por cento amigo do seu amigo. Foi ele quem há perto de quarenta anos reuniu em Lisboa o primeiro grupo de ourienses para tratar de assuntos de interesse regional; foi ele quem, mais tarde ausente do País, de lá escrevia continuamente animando a comissão do primeiro almoço ouriense realizado em 1935, indicando-lhe nomes, fazendo apresentações; foi ele ainda quem depois sempre acompanhou a comissão organizadora da Casa de Ourém, e não exageramos dizendo que o êxito obtido, se deve a sua colaboração.

E depois sempre o encontramos junto de todas as iniciativas, embora muitas vezes se colocasse em segundo plano. Político sincero e convicto, defendeu sempre os mesmos princípios, mas para além disso estava a sua terra, a nossa Ourém.

Lisboa, 29/06/1960

Joaquim Ribeiro

No “Noticias de Ourém” a 03/07/1960.

2005/10/16

Toponímia de largos e ruas da vila

Conforme deliberação tomada pela Câmara em reunião de 3 do corrente, que abaixo se transcreve, foi parcialmente alterada a toponímia dos arruamentos da sede do concelho, e designados outros ainda omissos sob esse aspecto:

Em face do relatório da Comissão de Toponímia acerca de trabalhos de revisão da nomenclatura de vias públicas com vista ao 10.º Recenseamento Geral da População, a Câmara deliberou:

1.º Que o troço da Rua 1.º de Dezembro compreendido entre a Rua Teófilo de Braga e a Avenida D. Nuno Álvares Pereira passe a designar-se Rua Tenente-coronel Moreira Lopes, em homenagem ao heróico oficial desse nome e grande amigo de Ourém, ali residente;

2.º Que o Largo General Carmona passe a designar-se Largo Marechal Carmona visto a patente daquela designação se ter desactualizado;

3.º Que o Largo Rodrigues Sampaio passe a designar-se Praça D. Maria II, a rainha que, por seu alvará de 25 de Setembro de 1841 elevou a povoação de Aldeia da Cruz, já então sede de concelho, à categoria de vila com a designação de Vila Nova de Ourém;

4.º Que os logradouros e arruamentos projectados ou ainda omissos na toponímia actual da Vila, a seguir indicados, passem a ler as seguintes designações:

a) Ao jardim a construir na Praça da República – mantendo esta a sua designação – o nome ilustre de um dos maiores líricos da língua portuguesa, que muito amou o concelho de Ourém, onde viveu e morreu – o Poeta Acácio de Paiva.

b) Ao troço da estrada nacional n.º113, entre a Rua Teófilo de Braga e o cruzamento com a Avenida D. Nuno Álvares Pereira (à Sapateira), o nome de Santa Teresa de Ourém, em homenagem à virtuosa senhora, falecida em 1266, a quem em vida ainda o povo canonizou.

c) À Rua E do Plano de Urbanização, o nome de Afonso Gaio, poeta e dramaturgo ouriense de grande relevo, que muito honrou a terra natal, arruamento que ficará implantado em parte na cerca da casa onde o homenageado viveu.

d) À Rua C do Plano de Urbanização, a designação de Rua dos Bombeiros Voluntários, em homenagem à briosa e prestante corporação local que ali tem a sua sede.

e) À projectada praceta, ao fundo dessa Rua, o nome de D. Manuel II, que foi o 35.º Conde de Ourém, título de que se orgulhava, pois no exílio o usou de preferência a qualquer outro inerente à sua alta hierarquia.

f) Ao troço da estrada nacional conhecida par estrada do Regato, entre essa praceta portanto e o largo do mesmo nome, a designação da Rua 1.º Marquês de Valença, um dos mais ilustres varões de Portugal de Quinhentos, que à antiga vila de Ourém deu novos pergaminhos e materialmente engrandeceu também, como o atestam ainda os monumentos ali existentes cuja construção promoveu. Foi o primeiro marquês de Portugal e o V Conde de Ourém e jaz na cripta da antiga Sé Colegiada.

g) Ao largo do Regato, onde se levanta a cruz que o Condestável ali mandou erguer piedosamente, e em cuja peanha se encontra gravada a data gloriosa de Aljubarrota (1385), a designação do Largo da Cruz.

h) Ao troço da estrada nacional n.º 113, entre o Ribeirinho (onde a Rua 5 de Outubro acaba) e o limite da Vila (Corredoura), o nome do médico e benemérito que ali viveu, o Dr. Joaquim Francisco Alves, que, para instalação da Casa da Criança, ofereceu o terreno necessário, e que por morte legou bens que permitem vida desafogada à instituição local “Sopa dos Pobres”, também Instalada na mesma rua.

No “Noticias de Ourém” a 26/06/1960.

2005/10/13

Um frigorifico

O estabelecimento de salsicharia e carnes, sito no Largo General Carmona, e pertencente ao Sr. Victor Hugo Espada, acaba de ser dotado com um apreciável melhoramento, um magnifico aparelho destinado a conservar e a evitar portanto a fermentação ou putrefacção dos produtos confiados à sua guarda.

O novo frigorífico é de grandes dimensões e excelente aspecto e a sua aquisição por parte daquele nosso amigo com o fim de valorizar o seu estabelecimento e beneficiar a terra, merece-nos toda a simpatia, razão porque sinceramente o felicitamos.

No “Noticias de Ourém” a 07/09/1941.

2005/10/05

Secção Desportiva

Em Vila Nova de Ourém as diversas modalidades desportivas, têm altos e baixos que mais parecem as marés do que escolas de atletas. Sucede isto com todos os desportos, mas especialmente com o Basket-ball que por ser uma das modalidades que mais treino e persistência requere, a ela me quero referir particularmente.

O Basket em V. N. de Ourém atingiu o seu máximo, quando um grupo de rapazes cheios de boa vontade, não tendo medo ao frio,
à chuva ou ao calor, conseguiram conquistar o Campeonato Regional.

Eram rapazes que se sabiam impor e que sacrificavam as suas vaidades e outras paixões àquele desporto. Sabiam os dias e horas de treino e se algum faltava era castigado.

Desses rapazes, alguns há que actualmente fazem parte do grupo. Fizeram o seu tempo e aguardam ansiosos a vinda dos novos que se fazem esperar e que não sabemos se chegarão.

Há outros sítios onde se divertem, mas também onde arruínam a saúde, que os chama e para onde vão de boa mente.

Um dia ou outro fazem um treino, um desafio um pequeno esforço desportivo (porque no desporto é preciso fazer esforços) e logo se queixam de fraqueza, de pontadas e muitas outras coisas, atribuindo logo o mal ao desporto. Mentira. O desporto bem conduzido, com a devida regra, metódico, só dá alegria causa prazer e entusiasmo.

Devem atribuir, sim, os seus males, à vida desgarrada, vida de ócio a outras causas mas não ao desporto. Isso sim, isso é que é a causa dos seus males.

É pena, de facto, ver rapazes no apogeu da vida, que mais parecem uns velhos do que moços.


Rapazes que no desporto seriam verdadeiros atletas, mas aos quais o vício se impõe. Rapazes que não têm força de vontade suficiente para se saberem conduzir. É por isso que em V. N. de Ourém a percentagem de tuberculosos é considerável. Mas não julguem que só a tuberculose é endémica no concelho. O álcool a par daquela doença, quer directa, quer indirectamente, causa um número considerável de vítimas.

Rapazes de Ourém, criai animo, subjugais o vício, ou melhor, os vícios, ponde de parte essa indiferença pelas coisas da vossa terra, dedicai umas horas ao desporto e vós encontrareis sempre quem vos guie.

Rapazes de Ourém o vício arruína-vos, o vício arruína a vossa família, o vício conduz sempre à degradação moral.

Praticai desporto e voltareis a ter saúde; praticai desporto e vivereis alegres; praticai desporto e vereis a vossa família cheia de vida gozando o que de melhor temos nesta vida – saúde.

Dral

No “Noticias de Ourém” a 09/02/1941.