2005/07/28

O Ourém Outrora vai de férias.
Voltaremos em Setembro onde vamos recordar um Homem que merecia uma estátua em Ourém:

TONÁ
Ah, deixámos a porta encostada para poderem cá vir quando vos apetecer!
Até lá.

2005/07/27

2005/07/25

2005/07/19

Quinta dos Poços III


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Quinta dos Poços II

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Quinta dos Poços I


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2005/07/16

Largo Miguel Bombarda II

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2005/07/15

1º Concurso das Janelas e Muros Floridos

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Jardim II

Viscondes de Vila Nova de Ourém

1º Visconde de Vila Nova de Ourém
José Joaquim Januário Lapa (1796-1859), 92º Governador da Índia, de 1851 a 1855, casou a 1822 com Ana Margarida de Bettencourt (1805 - 1874).
Filho do casamento:
Elesbão José de Bettencourt Lapa (1831 – 1899).
1º Visconde de Vila Nova de Ourém

2º Visconde de Vila Nova de Ourém
Elesbão José de Bettencourt, 107º Governador da Índia de 1894 a 1895, casou a 1868 com Maria Margarida de Carvalho Felner (1840 - ?).
Filho do casamento:
Elesbão José de Bettencourt Lapa (1869 - 1919)
2º Visconde de Vila Nova de Ourém
Elesbão José de Bettencourt Lapa, Fidalgo da Casa Real, casou a 1894 com D. Maria Augusta José de Mello (1869 – 1937).
Filhos do casamento:
José Joaquim Januário de Melo Lapa (1895 – 1966)
João José de Melo Lapa (1899 – 1983)
3º Visconde de Vila Nova de Ourém
José Joaquim Januário de Melo Lapa, casou a 1919 com Maria Leonor Beatriz Barbosa Gorjão Henriques (1888 – 1966).
Filha do casamento:
Maria Teresa Gorjão Henriques de Melo Lapa nasceu em 1920.
4º Viscondessa de Vila Nova de Ourém
Maria Teresa Gorjão Henriques de Melo Lapa, casou a 1943 com Augusto Vieira da Cunha Porto (nascido em 1912)
Filhos do casamento:
José Augusto Lapa da Cunha Porto, nasceu em 1944.
Nuno Lapa da Cunha Porto, nasceu em 1946.

2005/07/14

Elesbão F. Bettencourt Lapa V.

General de Brigada do Regimento de Guarnição n.º1
Elesbão F. Bettencourt Lapa V. de Vila Nova de Ourém - 1896

Jardim I

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2005/07/11

Ourém festejou condignamente o benemérito Dr. Joaquim Francisco Alves

Vila Nova de Ourém, 22 de Setembro de 1951.
O BANQUETE

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Foto gentilmente cedida pelos meus grandes amigos Lili e Tó
...
A sala de espectáculos do Cine Teatro, vistosamente engalanada com colchas, plantas e bandeiras, oferecia um deslumbrante aspecto. A mesa em forma de “M” decorada com flores acompanhava todo o vasto recinto, vendo-se por detrás dos lugares de honra a Bandeira Nacional ladeada pelos estandartes do Município, Grémio do Comércio, Bombeiros, Banda, Juventude Católica, Atlético Clube, etc. À direita do homenageado, sentava-se o senhor Presidente da Câmara, que presidia e os senhores Prior Henrique Fernandes, Luís Rito, Dr. Vasco Fernandes; à esquerda os senhores Barão de Alvaiázere, Vicente Rodrigues, José Maria Pereira e esposa, Joaquim Ribeiro e esposa. Nos restantes lugares viam-se os senhores Dr. Rui Vieira, Dr. Armando Vieira, Dr. António Joaquim Ruano Pêra, Dr. Inácio Vieira Verdasca, Dr. António José de Oliveira, Dr. Luís Andrade e Silva, José Maria Alves Marques, Vasco da Silva Sales, José Alberto da Cunha Rodrigues Leitão, José de Oliveira, Manuel Joaquim de Oliveira, José de Faria Ribeiro, António Sá Pavillon, José Henrique da Costa Pires, Joaquim de Sousa, esposa e filha, Aguinaldo de Oliveira Santos, Luís Ribeiro, Joaquim Marcelino Espada, Álvaro Rodrigues Lopes, Tenente José dos Reis Rodrigues, Fernando dos Reis Rodrigues, Joaquim da Silva, Luís da Graça Júnior, Vítor Lopes, Bernardino Bento Moreira, António Lopes Marinho, Sérgio Ribeiro, Hermínio de Aguiar, António Joaquim Major de Oliveira, Raul de Oliveira Santos, Augusto Martins, Higino Henriques, António Pereira Afonso, Armando Pereira, Manuel Pereira de Sousa e Silva, Manuel Maria de Sousa, José de Sousa Dias, Manuel Joaquim Ribeiro e esposa, Joaquim Pereira Isabel, Francisco Marques Pereira, Manuel de Oliveira Marques, Cândido Afonso Machado e Costa e esposa, Alfredo de Sousa Simões, Miguel Lains, Mariano Espada, Luís Ferreira, Jaime Nunes da Cruz, Fernando Galamba de Oliveira, Joaquim Vieira Verdasca, Artur de Oliveira Santos e esposa, Jaurés de Oliveira Santos e esposa, Coronel Oliveira, António de Oliveira Pimental, Ezequiel António Casimiro, António Moreira, Vítor Hugo de Oliveira Santos e esposa, Viriato de Oliveira Santos e esposa, Afonso de Oliveira Santos, D. Vivência Claudino, Manuel Henriques.

(clique aqui, para ver o artigo completo publicado no Noticias de Ourém a 02/10/1951)

2005/07/08

Grandioso festival desta Vila

Vila Nova de Ourém, 31 de Agosto 1952.
O Orfeão de Santarém toma hoje parte no grandioso festival desta Vila
O Rancho Flores de Pombal exibir-se-á no próximo sábado

NOS RESTANTES DIAS, PROGRAMA VARIADO

Prossegue hoje, no Jardim desta Vila o grandioso festival promovido por a “Juventude Ouriense”, cujo programa marcava para início uma sessão de fados e guitarradas. O dia de hoje, porém, terá a assinalá-lo um acontecimento de excepcional grandeza ou seja a exibição do famoso Orfeão de Santarém, que gentilmente se prontificou a tomar parte no festival. Terá, como é de justiça, uma recepção condigna, e que constará principalmente do seguinte:

Às 17 horas, cumprimentos à entrada da Vila, cerimónia em que tomará parte a população desta, com a Banda, Bombeiros e restantes organismos locais. Organizar-se-á seguidamente um cortejo até aos Paços do Concelho, onde o senhor Presidente da Câmara apresentará as boas-vindas à brilhante embaixada artística que nos envia a importante capital do nosso Distrito. Depois, ser-Ihe-á oferecido um jantar, que terá lugar no campo de jogos da “Juventude Ouriense”.

O sarau principiará às 22 horas sob a regência do ilustre maestro, professor Fernando Cabral. A apresentação do Orfeão será feita pelo se senhor António de Sousa Vadre Castelino e Alvim.

Programa
I parte
CHORAI CHORA! - Do folclore minhoto;
AMORES! AMORESI – Dr. Raposo Marques:
OH! LINDAI – Do folclore minhoto;
MORANGUEIRA – Do folclore minhoto;
PROPOSIÇÃO DOS LUSÍADAS – Hermínio do Nascimento;

II parte
SERENATA – F. Schubert;
EN PASSANT PAR LE BOIS – Louis Liébard;
LE MOULIN – Louis Liébard;
CORAL DE SACHS – R. Wagner;
MARCHA MILITAR – F. Schubert;

O festival prosseguirá nos dias a seguir indicados:

Dia 4 – quinta-feira – Max, grande cançonetista madeirense; Ana Paula, uma das mais lindas vozes da Rádio, acompanhada pelo maestro Frederico Mendes. Mário Nobre, locutor e jornalista distinto, dirigirá o programa.

Dia 6 – sábado – Exibição do afamado Rancho “Flores de Pombal”, outra brilhante embaixada que a vizinha Vila nos envia e que está também preparada carinhosa recepção;

Dia 7 – domingo – Acto de Variedades “Surpresa”.

Nos dias 1, 2, 3 e 5 a esplanada funcionará com música gravada.

No “Noticias de Ourém” a 31/08/1952

Acto de Variedades “Surpresa”

07/09/1952

Acto de Variedades “Surpresa”

07/09/1952

Acto de Variedades “Surpresa”

07/09/1952

Acto de Variedades “Surpresa”

07/09/1952

Acto de Variedades “Surpresa”

07/09/1952

2005/07/06

VIDA DESPORTIVA

Vila Nova de Ourém, 26 de Outubro 1952.
HÓQUEI EM PATINS
No jogo realizado no passado domingo entre Juventude – Ateneu de Leiria a contar para a segunda volta do campeonato de hóquei em patins organizado pela Associação de Patinagem do Oeste, deu-se o resultado de 5-3 a favor do Juventude.
(Clique na foto para ampliar)
Visto o Ateneu ter empatado com o Atlético em Leiria por 2-2 e perdido no domingo com o Juventude, a classificação sofreu alterações:

Classificação geral:
Tomar.................................................J-5;V-4;D-1;E-0;B-33/10;P-13
Caldas.................................................J-4;V-4;D-0;E-0;B-24/10;P-12
Juventude............................................J-6;V-3;D-3;E-0;B-17/24;P-12
Ateneu................................................J-6;V-2;D-3;E-1;B-10/18;P-11
Atlético...............................................J-6;V-0;D-1;E-1;B-11/35;P-7

Hoje, às 17 horas, realiza-se no campo de patinagem do Atlético um desafio de hóquei em patins, entre Sporting de Tomar e Atlético, a contar para a segunda volta.

No “Noticias de Ourém” a 26/10/1952

2005/07/03

Conferência sobre Afonso Gaio

Vila Nova de Ourém, 3 de Abril 1960.
A escritora Lita Scarlatti – prémio Ricardo Malheiro, de 1956 – falou sobre Afonso Gaio, na Casa de Ourém e prestou-se a repetir a sua conferência nesta Vila.
O serão do dia 23 ficará assinalado como uma jornada cultural de elevado nível e um inestimável serviço prestado à Casa de Ourém, empenhada em fazer luz sobre a figura de um ouriense ilustre.
De facto, a conferência de Lita Scarlatti sobre o escritor, poeta e dramaturgo Afonso Gaio, chamou às Cruzes da Sé uma assistência numerosa e distinta a testemunhar o interesse despertado nos meios intelectuais da capital e de que toda a imprensa se fez eco.
No impedimento do Sr. Dr. Acácio de Paiva, presidiu à sessão o Sr. R. Gouveia Carreira, vice-presidente da Assembleia-Geral da Casa de Ourém. À sua direita sentaram-se os senhores Conde de Vinhó e de Almedina, o presidente do Cenáculo Tábua Rasa, Júlio Cabral, Comodoro Scarlatti e Eng.º Cunha Lopes, presidente da Direcção da Casa de Ourém. Tomaram lugar, à esquerda, os senhores Dr. Ferreira Deusdado, Alberto Pinheiro, J. Ribeiro da Cunha pela Casa de Gouveia, e Arnaldo Martins de Brito pela Casa do Algarve.
“A distinta escritora D. Lita Scarlatti, proferindo a sus conferência sobre o poeta e escritor ouriense Afonso Gaio, na Casa de Ourém”
(Clique na foto para ampliar)
Após as palavras de apresentação da conferencista, ditas pelo Eng.º Cunha Lopes, a distinta escritora, sempre atentamente escutada, proferiu a sua valiosa e interessantíssima conferencia, tendo, no final, sido muito cumprimentada.

O Sr. Gouveia Carreira fechou a sessão com o elogio do trabalho, e entregando à ilustre senhora uma lembrança da Casa de Ourém. A esposa do Eng.º Cunha Lopes ofereceu-lhe por fim, e entre fartos aplausos, um lindo ramo de gladíolos.

Recordamo-nos de ter visto entre a selecta assistência, a Sra. Condessa de Vinhó e de Almedina, escritora Maria Alvarenga, D.ª Maria Botto Machado, D.ª Maria Adelaide Scarlatti Quadrio Raposo, pintor Abel Mantua, Major Mateus Moreno, escritor Carlos Selvagem, Dr. Martins da Cruz presidente da Casa das Beiras, Major Sousa Chaves, Calderon Dinis, chefe da Editorial “Diário de Notícias”, Prof. Abílio Amaral, Dr. Cruz Sobral, Dr. Rodrigues Cardoso, José Galamba de Oliveira pela Câmara Municipal de Vila Nova de Ourém, Eng.º Francisco Santos, Luis Cordovil, etc., etc.

A escritora Lita Scarlatti acedeu em repetir, nesta Vila, a conferencia, facto que se assinala com grande regozijo.

No “Noticias de Ourém” a 03/04/1960

Joaquim Gomes Vieira Gaio

Vila Nova de Ourém, 29 de Maio de 1960.

A Casa de Ourém, a Biblioteca Pública Ouriense e o “Notícias de Ourém” deliberaram promover a publicação da erudita conferência que a senhora Dona Lita Scarlatti escreveu acerca da figura humana e literária de um ouriense ilustre, Afonso Henriques Vieira Gaio.
Proposto o assunto à Câmara Municipal, conta-se, para já com a amável aquiescência do Sr. Presidente da Câmara que nos prometeu subsidiar a publicação, e afirmou que considerava de elevado interesse e oportunidade esse trabalho.


(Foto Via Ourém Blog)

As diligências atinentes a tais propósitos vieram levantar-nos o problema da ascendência de Afonso Gaio. Trazemo-lo, aqui, por curiosidade, visto que corrobora “a hipótese deste vir a ter o seu nome ligado a uma artéria de Ourém e o respectivo monumento”, embora isso em nada altere a personalidade versada na conferência da ilustre Senhora. Por outro lado, maior dívida teremos, para com o descendente se pudéssemos vir a saber, com toda a autenticidade, que teve grande prestígio na vida social do concelho o progenitor do dramaturgo.

Inquiria a notabilíssima escritora sobre as supostas relações entre o poeta e “um cavalheiro a quem o concelho deve muitos bons serviços, como administrador e presidente da Câmara, Dr. Joaquim Gomes Vieira Gaio”, (vide Esboço Histórico do Dr. Neves Eliseu, pág. 109) e o tenente-coronel Dr. Joaquim Gomes Vieira Gaio que nos aparece, também, rodeado de grande preito na referida história do concelho, recebemos a comunicação que passamos transcrever, ipsis verbis, para lhe não tirarmos uma palavrinha de humor Scarlattiano.

Entre os jurisconsultos que exerceram a sua Profissão no concelho, mas vindos de fora, inclui-se Joaquim Gomes Viera Gayo, do Reguengo, em 1844.

Em 1847, o tenente-coronel, Dr. Joaquim Gomes Vieira Gayo, era o comandante da guarda de segurança no concelho de Ourém.

Entre os administradores que substituíram os provedores em Ourém, o sétimo em nomeação foi, desde Fevereiro de 1847 até Dezembro de 1848, Joaquim Gomes Vieira Gayo.

Em 1853, separa-se da administração, geral das matas nacionais o “Pinhal do Rei”, de que tomou posse, um empregado da Casa de Bragança, em 21 de Novembro de 1853. O rendimento era a gratificação que a Casa de Bragança dava ao administrador que foi, o Dr. Gayo.

Nota – se, em 1844, quando vindo de fora passou a fazer parte dos jurisconsultos de Ourém, o Dr. Gayo tivesse 30 anos, à data do nascimento do seu último filho, Afonso Gaio, em 1872, teria 58 anos.

Ora, de 1828 até 1834 foram as lutas liberais. Depois houve a patuleia, a Maria da Fonte etc. e tal. Época atribulada, tal como o período napoleónico, deu aso a rápidas promoções no exército.

O cavalheiro de Ourém, podia ser um jovem oficial, pai de Afonso Henriques Vieira Gaio?

Se a figura de poeta e intelectual nada cresce ou diminui com a posição social do pai, o esclarecimento deste curioso facto é todavia, para nós, sumamente interessante.

À senhora Dona Lita Scarlatti, talentosa autora de o “O Cabo das Tormentas” e “Segredos da Montanha”, deixamos aqui registada a expressão muito distinta do nosso reconhecimento pelas informações que nos deu, tanto mais que cada linha escrita sobre Afonso Gaio, representa para o seu trabalho de proba investigação os mais exaustivos esforços, esforços que hão-de coroar de êxito a causa do nosso conterrâneo, esquecido, mas bastante notável para merecer a homenagem dos seus patrícios.

J.G.

No “Noticias de Ourém” a 29/05/1960

TALENTO E ESPÍRITO UTILITÁRIO – NÃO SÃO A MESMA COISA

Vila Nova de Ourém, 19 de Junho 1960.

Por Lita Scarlatti
Se repararmos bem, por mais diverso que seja o ramo da Arte ou da Ciência em que os talentos se afirmem, a ligá-los, entre si, existirão sempre determinamos traços – como se nascessem no mesmo lar, e fossem empurrados, para a vida, pelo mesmo impulso orientador.
Sempre uma juventude mal afortunada, a mesma negra luta pelo pão de cada dia, igual embate duma hipersensibilidade que se desfibra contra a dureza da alma alheia. Sempre um sulco de incompreensão, de ingratidão, de injustiça e de inveja, a assinalar a trajectória dos seus passos neste mundo.
Ou será que, na forja do Destino, os caracteres têm de ser caldeados para apuramento dos metais nobres e, estes, ao rubro dos maiores sofrimentos, se temperarem e polirem, de modo a que o Tempo os não enferruje?
Tanto assim é, que os grandes homens que nasceram ricos, para merecerem da imortalidade a graça daquele brilho imperecível, como Tolstoi, sentem a necessidade de envergar a blusa do moujik – a veste da pobreza – e de consumir-se na ânsia do sacrifício depurador.
Nem todos os ourienses conhecerão a história de Afonso Gaio, mas talvez nem valesse a pena contá-la, bastando possivelmente citar os nomes dos seus iguais em talento e má fortuna. Em todo o caso, a título de curiosidade, vamos dá-la a traços largos.
Afonso Gaio, nascido em 25 de Outubro de 1871, em Ourém, e aí baptizado a 20 de Novembro do mesmo ano, era filho do Dr. Joaquim Gomes Vieira Gaio, aquele jurisconsulto que, no reinado de D. Maria II, foi simultaneamente tenente-coronel da Guarda de Segurança, administrador do concelho e presidente da Câmara de Ourém, e administrador da Casa de Bragança.
Mal vai, porém, ao homem, cujo talento não adquire projecção para além dos estreitos limites da terra onde nasceu ou viveu! Acontece-lhe, precisamente, o que se deu com o pai de Afonso Gaio. Foi o “cavalheiro a quem o concelho deve muitos bons serviços, como administrador de concelho e presidente a Câmara”, citado por Neves Eliseu no seu “Esboço Histórico do Concelho de Vila Nova de Ourém".
Não obstante, quando alguém quer saber quem foi realmente neste mundo pai de Afonso Gaio e, no rasto do talento do filho ilustre, procura a sombra do seu progenitor, as Enciclopédias, os Dicionários Biográficos e os Arquivos Históricos permanecem mudos. As buscas têm de circunscrever-se a um local por vezes mais pequeno que um cemitério.
Acontece assim apenas porque talento e espírito utilitário não são a mesma coisa.
Aos 18 de Setembro de 1873, portanto com menos de dois anos de idade, Afonso Gaio ficava órfão de pai, e em vez de frequentar o, Colégio Militar – a escola para meninos ricos, ou remediados, filhos de oficiais – aos 9 anos, por orfandade e pobreza (conforme o atestam dois documentos apensos ao respectivo processo) era admitido na Casa Pia de Lisboa.
Precederam-no nessa Casa, os dois mais desgraçados títulos que a juventude pode ter – a orfandade e a pobreza – mas isso, ainda assim, é quanto basta para a Casa Pia de Lisboa se orgulhar de contá-lo entre os seus mais ilustres filhos adoptivos.
Aos 13 anos, apesar dos excepcionais dotes de inteligência, por falta de apoio, viu dado por findo o internamento e os estudos, e saiu para o aprendizado de caixeiro, na loja de fanqueiro de António Paiva, na Calçada da Pampulha, n.º 89.
(Clique na foto para ampliar)
Dali, transferiu-se para o estabelecimento de Manuel Pereira de Figueiredo, na Rua Direita de Alcântara, n.º 89 e, por fim, foi aprendiz de luveiro na fábrica dum francês. Adolphe Malbouisson, na Rua Garrett, 54.

Perante o retrato que ilustra a biografia de Afonso Gaio, traçada na “Enciclopédia Luso-Brasileira”, comentando a revolta do caixeiro que insistia por estudar e “se negava a trabalhar nas lojas por considerar a tarefa imprópria para um filho de bacharel”, o Sr. Dr. Oliveira Martins (a quem devemos a permissão de folhear comovidamente o seu processo) murmurou apenas:

- Corno é que um homem destes podia resignar-se a ser caixeiro ou aprendiz de luveiro?! …

Depois, teve um pequeno emprego nas Obras Públicas de Beja. Seguidamente, para poder estudar, assentou praça, voluntário, em Caçadores 5.

Só Deus poderá avaliar as privações suportadas ate chegar ao Curso Superior de Letras, sem a mínima ajuda de ninguém.

Desistiu da vida militar e, na mira de trabalhar de noite, e estudar de dia, ingressou no jornalismo onde o seu nome brilhou entre os melhores da época, chegando a colaborar em “La Nacion”, um dos dois maiores jornais de Argentina.

Com a morte da mãe viu terminado o sonho de concluir o curso. Em a “Coroa de Espinhos”, um livro de sonetos escritos aos 20 anos, nestes versos dedicado à sua memória, Afonso Gaio lamenta-se:

“Como um conto de fadas, muito antigo,
Em pergaminho lívido gravado,
Eu tenho escrita a vida do passado
Tão branca como a cinza de um jazigo.

Vão-se os olhos chorando, ao ver que sigo
Todas essas saudades; e, mau grado.
Meu, quando vulto ao tempo de namorado,
Matar dor nessa hora está comigo!

Parte da minha vida se desterra.
- Para onde? Nem eu sei! Porque meus passos
Nem sabem da alma que meu corpo encerra…

Desde que alguém fugiu levando os braços
Onde eu, crente, dormia cá na terra,
Como as estrelas dormem nos espaços!”


Quando depois de 70 anos de atribulações, de torturas e de incompreensão, Afonso Gaio deixou de sofrer, só por um motivo não pôde repetir-se o testamento de Voltaire: - “Devo tudo, não tenho nada; o resto é para os pobres”

Dum orgulho que se traduzia em rectidão de carácter e numa extrema honradez, habituado a viver com pouquíssimo, não devia nada a ninguém. Nem favores. Também, pelo menos aos pobres de intelecto, não deixava nada. Mas aos ricos de espírito legou uma obra que se concretiza em dois romances; um livro de contos, todos modelares; crónicas, conferências, cerca duma vintena de peças (entre as quais, seguramente dez tão boas como as consideradas boas no nosso Teatro); e cinco volumes de poesia. O último, inédito, “Os Escravos” em dez cantos num total de mais de mil e oitocentos versos agrupados em tercetos doze sílabas, não se envergonha de emparceirar com a “Legende des siécles”, de Victor Hugo.

As peças de Afonso Gaio, todas elas, ou decorrem em Lisboa onde ganhou dura e honradamente o pão, ou em Ourém, sua terra, a qual legou um nome ilustre, seu único tesouro acumulado através de inenarráveis sacrifícios.

Acreditamos que, entre os ourienses, não exista ninguém capaz de fazer esta pergunta absurda:
- Mas, objectivamente, que fez Afonso Gato pela sua terra?
Que os ourienses me perdoem a ofensa que a interrogação envolve. Ela foi posta unicamente em hipótese e, sobretudo, para nos permitir estabelecer o paralelo que une, entre si, os homens geniais.

Com efeito, talento e espírito utilitário, não são a mesma coisa.

Qualquer criatura sem mérito nem virtude, desde que o acaso lhe tenha dado bens de fortuna (sabe Deus quantas vezes mal adquiridos) pode afixar o seu nome num marco fontenário ou num lavadouro público.

Mas, a marca do talento, essa, reside precisamente no cunho dm universalidade e, assim, não pode confinar-se nos pequeninos interesses de natureza utilitária duma aldeia, duma vila, duma cidade ou até dum país.

Que fez Shakespeare pela sua terra natal, Stratford, na Inglaterra? Objectivamente, nada, porque não cabia lá o génio do maior escritor trágico do mundo.

Que fez Beethoven por Bonn, na Alemanha? Nada podia fazer, porque o génio do maior músico de todos os tempos, tinha de ultrapassar o âmbito da sua terra para encher o mundo.

Que fez Pasteur pela sua terra, Dôle, na França? Tudo e nada. A universalidade das suas descobertas salvou, e todos os dias salva a vida dos homens, sem limite de fronteiras.

O génio de Camões poderia ter-se manifestado em qualquer paralelo. Somente, cabe aos portugueses a honra de lhe chamarem irmão.

Santo António, o grande santo português é conhecido, por Santo António de Pádua. De Pádua, na Itália, pois a Fé como o talento, não conhecem fronteiras e, quanto maiores, mais acentuada a sua universalidade.

Para exemplo, apontamos homens verdadeiramente geniais. Mas, dentro de quaisquer limites, talento e espírito utilitário não são a mesma coisa.

E afinal, que fazem pela sua terra, os homens como Afonso Gaio? Nada, e tudo. Passam fome e privações, torturam-se, de alma a sangrar deixam se ferir pela ingratidão, pela incompreensão, pela injustiça e pela inveja dos medíocres, consomem-se num Ideal que se traduz na realização duma obra que será para todos mas, grande ou grandiosa, cabe intacta no nome ilustre do qual, legitimamente, só poderá orgulhar-se a pequena terra onde nasceram.

Lita Scarlatti

No “Noticias de Ourém” a 19/06/1960

AFONSO GAIO o homem e a sua obra

Vila Nova de Ourém, 31 de Julho 1960.
Por Lita Scarlatti.

Lita Scarlatti
Dezanove anos após a sua morte, dezanove anos de silêncio que a maioria dos ourienses talvez ainda não saiba compreender bem, reaparece, com toda a opulência da sua personalidade, poética e humana, um homem, que no seu tempo, soube compensar, as próprias amarguras temperamentais com uma agudíssima interpretação intelectual de problemas sociais bem escaldantes, como o são, ainda, na hora presente.

Afonso Henriques Vieira Gaio é esse homem, e Lita Scarlatti, a escritora talentosa que, com o seu desassombrado espírito de escol, quebrou o ingrato e longo período de silêncio que o ocultava às vistas do mundo. A perpetuar o facto, está ai, agora, totalmente publicada, com duplo fim, a encantadora a conferência que a ilustre senhora proferiu na Casa de Ourém, repetiu nesta vila há cerca de três meses.

As “Novidades” no dizer autorizado e elegante de Elisa AIverenga, referiram-se encomiasticamente ao trabalho de Lita Scarlatti, como sendo uma profunda expressão da melhor sensibilidade feminina.

Do aparecimento da recente edição ocupou-se também a imprensa diária. É da “República”, onde a vivíssima escritora mantém um dos mais brilhantes e mais fecundos títulos de colaboração, que respigamos estas justíssimas referências.

“O acto cometido por Lita Scarlatti foi de ternura e de justiça. De ternura, pelo carinho e calor de simpatia humana com que se debruçou amorosamente sobre a imagem do poeta; de justiça pela nobre coragem e perfeito sentido de dignidade intelectual com que afastou os escuros reposteiros que punham na sombra um homem de carácter, um poeta de fina e dolorosa sensibilidade, um dramaturgo de incontestáveis méritos, um escritor, enfim, que compreendeu e reflectiu, delicado e sensível, o drama dos que vinham ao mundo desamparados, sem a asa da sorte a roçar-lhe a face.”

A Câmara Municipal, a Casa de Ourém, o Notícias de Ourém e a Biblioteca, agradecidos pelo alto serviço prestado pela senhora Dona Lita Scarlatti, promoveram a publicação da conferência, na certeza de que a par das principais funções que lhes competirá exercer, esta, a de tornar conhecidos os ourienses ilustres, é um exercício de ordem moral tão importante e tão válido como quaisquer outras legais atribuições das suas actividades.

O produto da edição destina-se à construção dum monumento a erigir ao poeta, e, talvez, um dia, a par do busto de outros ourienses ilustres nas letras, na assistência, ou no acendrado devotamento à terra que para uns foi berço querido, campo de acção exaustiva para outros. A ideia é velha. É a ideia dum aformoseamento da vila.

Os livros estão à venda na Casa de Ourém, em Lisboa, e na Tipografia Ouriense onde foram compostos e impressos.

J. G.

No “Noticias de Ourém” a 31/07/1960