2006/01/24

O Parque da Vila

Iniciou, em tempos, a nossa Câmara, num rasgo impetuoso a desempoeirado, a execução dum vasto plano de melhoramentos urbanos, que tiveram, por assim dizer, o seu ponto de partida, no ajardinamento do largo fronteiro aos Paços do Concelho. Deste plano - que nem por ser grandioso deixava de ser exequível -fazia parte, como complemento do jardim Municipal - hoje uma risonha realidade, se bem que susceptível de reparos - um bem delineado Parque, que, uma vez concluído, constituiria o ponto de reunião preferido por todos aqueles que, fartos duma vida sedentária, quisessem procurar, no conchego da sua sombra, o lenitivo para as ardências do estio e, na pureza da sua atmosfera, o são alimento dos seus pulmões intoxicados.

Ora, com grande mágoa nossa, vimos que os trabalhos encetados para a consecução deste melhoramento, foram interrompidas a breve trecho (tendo-se limitado a uma simples remoção de terras), a que a urbanização do extenso tracto de terreno existente entre a residência do Sr. Dr. Andrade e Silva e a escola Conde de Ferreira, ficou confinada ao largo deste nome, sem esperanças – pelo menos por ora – de a vermos completada com o projectado Parque, obra esta, que serviria, simultaneamente, a estética e a higiene da Vila: - a primeira pelo embelezamento dum local que só tem de boa a sua extensão; a segunda pelo implícito afastamento da feira de gados do centro da terra e pela influencia que a sua espessa vegetação viria a ter no saneamento do ar, que respirássemos.

Actualmente, se por necessidade fisiológica ou meramente recreativa nos dispusermos a dar um passeio após o jantar, teremos de escolher entre a Praça da Republica – que pela sua exiguidade e má conformação nos obrigará a voltas a contravoltas que acabarão por estontear-nos – e a poeirenta estrada nacional, cuja similitude com as artérias londrinas é flagrante, não pelo asfalto do seu piso nem pela sumptuosidade das suas edificações, mas, simplesmente, pelo denso nevoeiro, que, permanentemente envolve uma a outras. No entanto, ao passo que a má, visibilidade nas ruas da grande urbe inglesa, é o reflexo dum conhecido fenómeno meteorológico, entre nós é devida a verdadeiras vagas de poeira e imundície, em suspensão na atmosfera, constituindo magníficos caldos de cultura microbiana, que mantêm a principal artéria da Vila em constante guerra aberta com o organismo dos desprevenidos transeuntes que por ela se afoitem.

Por tudo isto e muitos outros motivos, pode-se avaliar a lacuna, que a efectivação dum tal projecto viria preencher, num meio, em que tanto se faz sentir a falta de locais apropriados a tonificação do corpo e do espírito.

Seria também o Parque o ambiente idóneo para a audição de bons concertos musicais, que a nossa Banda nos proporcionaria – pois eu ainda não perdi a esperança de que melhores dias hão-de surgir para ela – e, para isso, deveria ser ali construído o respectivo coreto, o que poderia muito bem fazer-se mesmo antes deste almejado recinto ser uma realidade.

É também evidente necessidade, olhar desde já, com atenção, para as ruas de acesso ao largo de cuja urbanização vimos tratando, pois qualquer delas oferece uma exuberância de pormenores pouco convidativos, que as coloca em manifesta desarmonia com as funções de ligação que desempenham, mormente aquelas que pela sua importância já tiveram a honra de serem baptizadas – que das outras nem é bom falar, por serem verdadeiras vielas de aldeia sertaneja.

Pensemos muito a sério e com afinco na realização de tão importantes melhoramentos, que eles serão – a par da comodidade que para nos representam – os melhores cartazes de propaganda da nossa terra!

Luiz Rito

No “Noticias de Ourém” a 19/08/1934

2006/01/14

A Fundação do Asilo

A 20 de Janeiro de 1946 – há portanto quatro anos – inaugurou-se o Asilo do Hospital de Santo Agostinho. Numa cerimónia simples, precedida de uma sessão solene nos Paços do Concelho, o então Chefe do Distrito, Senhor Coronel Valente de Carvalho, procedeu a esse acto. Vale a pena resumir a história desta nova instituição.

O benemérito Dr. Agostinho Albano de Almeida, falecido em 1890, exarara no seu testamento que quando as receitas do Hospital o permitissem, devia instituir-se um asilo para velhos. Não foram porém, tão propícios os ventos à instituição que lhe consentissem tal encargo. Pelo contrário, as dificuldades amontoavam-se a ponto de se julgar que até o próprio hospital se não aguentaria. No entanto, anos volvidos, foi erguido o edifício para instalação do asilo, sem contudo ser possível pô-lo ao serviço da sua finalidade. Mais anos decorreram e o casarão, abrindo fendas nas paredes, com tectos abaulados ao peso das águas que o telhado não defendia, os vidros das janelas partidos, parecia fadado a nunca mais justificar a designação que ostenta na cimalha da fachada. Funcionavam no seu primeiro andar, em péssimas condições, duas aulas da escola primária feminina. O rés-do-chão servia para bailes e festins da Vila, aproveitando-se assim o espaçoso das suas salas.

No entanto, ao alto, bem destacada, a palavra “AZYLO” sorria escarninha.

Cerca de 1944 a 1945, fizeram se as primeiras tentativas, nessa altura apenas para salvar da ruína o precocemente velho edifício. Reparou-se o telhado, restituiu-se aos tetos das salas a forma plana que o peso da água das chuvas deformara, pintaram-se as madeiras, e estucaram-se interiormente as paredes e exteriormente renasceu lhes a cor da cal.

Antes disso a escola feminina fora convidada a procurar outra instalação.

Entretanto foi necessário tornar fôlego, pois os capitais eram escassos. Não durou, porém, muito o interregno, porque pouco depois mobilava-se o edifício com o indispensável e apelava-se pare a generosidade, entusiasticamente correspondida, dos Ourienses, na campanha de “Um lençol para o asilado”.

Assim se chegou a 20 de Janeiro de 1946.

A palavra “AZYLO” esculpida na cimalha do vasto edifício deixou de sorrir escarninha; os velhinhos do Concelho de Ourém podiam finalmente entrar.

Estava paga ao grande Ouriense a dívida aberta havia mais de meio século!

No “Noticias de Ourém” a 22/01/1950

2006/01/12

Bombeiros

Conta desde há dias com um novo melhoramento a Corporação de Bombeiros desta Vila, obtido com a adaptação a pronto-socorro do excelente “Chevrolet” oferecido em tempos àquela prestante colectividade pela família Joaquim Pereira.

Ficou a nova viatura com a faculdade de transportar – além do pessoal – a moto-bomba pequena, escadas, extintores, mangueiras, etc.

É este um melhoramento muito apreciável e de práticos resultados, pois com o novo carro fica a Corporação habilitada não só a auxiliar o serviço do pronto-socorro grande – orgulho da associação e da terra – como ainda a levar a sua benemérita acção a locais do concelho onde pela má situação dos caminhos de acesso esta última viatura não possa chegar.

É de justiça dizer que o referido melhoramento se deve à dedicação sempre viva do Ajudante do Corpo, Sr. José Maria Pereira, e que o trabalho de adaptação foi feito com muita felicidade e competência pelo chefe de material Sr. Ezequiel da Fonseca Pereira de Oliveira.

No “Noticias de Ourém” a 01/06/1941.