2005/09/08

Um Homem modesto

Servindo os melhores interesses da terra vai ser homenageado.

Cada indivíduo, cada um de nós vive ou deve viver realizando-se e cooperando na realidade dos outros.

Por outras palavras: Ninguém deve ter nascido sem a força moral de vir a melhorar-se e de ajudar a melhorar os outros. Diria ainda: Cada homem sente urgência de adquirir para o seu património espiritual certos valores morais que lhe serão sempre mais caros que a riqueza, mais caros que todas e quaisquer aquisições materiais.

Este sentimento, esta noção de necessidade de melhoria individual sugere-nos e parece pressupor uma sociedade perfeita, uma sociedade regida por leia justas, por relações humanas sem violências nem traições uma sociedade onde muito naturalmente os seres serão caridosos, justos, fraternos e pacientes sem deixarem de ser muito diferentes uns dos outros.

Parecera que, efectivamente, só numa sociedade perfeita a disciplina pessoal, a educação, a instrução e o esclarecimento de todos podem resolver, no homem, a transcendência da equação divina que, eu creio, nos marca a existência.

Parecerá que, efectivamente, os problemas do destino humano se podem compreender nesse quadro. No entanto, porém, bem sabemos que as coisas são mais simples, mais naturais, mais fáceis, e que o verdadeiro destino do homem não é bem, não é bem verdadeiramente o de um lugar numa sociedade perfeita, nem tão pouco se destina sequer a consegui-la, ou a realizar-se, só, por meio dela.

O destino de cada um de nós nora antes o de – sem utopias sem cedências – “AMAR O PRÓXIMO COMO A SI MESMO.”

Estas as observações que me ocorrem ao pretender referir-me à razão de ser da homenagem que Ourém vai render ao senhor António Afonso.

Na verdade, sem cultura especial, quase sem diplomas de instrução, o António Afonso soube encontrar nas mil tarefas de cada dia, como nas suas tão diversas relações com as autoridades do concelho, com o público, com os seus colegas das associações a que pertenceu ou pertence ainda, uma existência invulgar, totalmente baseada na compreensão e no respeito do direito dos outros, dando-se a todos e a tudo com elevação, com dignidade, com simplicidade, com franqueza e dedicação de tal modo, que vem a ser sempre, sem invejas ou afectações, um dos primeiros onde quer que aparece.

Ora o António Afonso não precisou, – é essa a grande lição e o grande mérito do “Toná” – não precisou de viver numa sociedade perfeita: - antes tem vivido para a aperfeiçoar, para a melhorar, querendo a todos como a irmãos, realizando-se e ajudando carinhosamente a elevar a realidade dos outros. Ele que, oficialmente, mal possui a 4.ª classe, melhorou-se e instruiu-se, ajudando, ainda, a melhorar e a instruir os outros!

E essa modesta lição de verdadeiro sentido e compreensão humanos que Ourém vai destacar na homenagem que lhe vai ser prestada no próximo dia 1 de Julho, homenagem simples, como não pode deixar de ser, e cuja descrição será feita no próximo número do “Noticias de Ourém”, a fim de que todos quantos quiserem associar-se possam ter o prazer de realizar os seus desejos.

José Galamba

No “Noticias de Ourém” a 17/06/1962.

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