2006/03/23

Anúncio - Má Lingua

Má Lingua XIII

CRIADA

Quando me apanha às escuras
No fundo do corredor,
Todo ele são ternuras
Chama-me seu lindo amor.

Diz que a minha é bem mais linda
Do que a cara da patroa,
E que na família ainda
Cabe mais uma pessoa.

CUNHA
Quem será o figurão?

BRASILEIRO
Eu não sei quem ele é.

CUNHA

Tanto pode ser João

BRASILEIRO
Como pode ser José

CRIADA
Quando eu pego no miúdo,
Por ele estar a chorar,
Ele deixa logo tudo
P´ra o vir acariciar.

E diz-me fica-te bem,
Nem uma santa do céu
Dava mais extremosa mãe
Dum filho que fosse meu.

CUNHA
Tem muito bom coração

BRASILEIRO
Que boa alma encerra

CRIADA
Destas há muitas patrão
Nesta abençoada terra.


CRIADA E CAIXEIRO

CAIXEIRO
Ainda bem que te vejo
Para te poder falar

CRIADA
Pois olhe que o meu desejo
Era nunca o encontrar

CAIXEIRO
Não sejas assim esquiva
A quem tanto bem te quer,

CRIADA
Sou orgulhosa e altiva
Do meu brio de mulher.

CAIXEIRO
Alta é a cruz da Igreja
E dá-lhe a sombra no chão,

CRIADA
Se é no chão que me deseja
É porque é fraca a afeição.

CAIXEIRO
Quero-te no chão ou no céu
E bem juntinhos os dois.

CRIADA
O que você quer sei eu
O pior era depois.

CAIXEIRO
Anda cá não tenhas medo
Não tens para isso razão,
Que eu sei guardar um segredo
No fundo do coração.

CRIADA
Esteja quieto seu demónio
Que a bilha pode quebrar
E depois nem Santo António
É capaz de a concertar.

CAIXEIRO
Se amar é a lei da vida
Porque não queres tu amar?

CRIADA
Por ver que há tanta perdida
Apenas por confiar.

CAIXEIRO
Ninguém se pode esquivar
Aquilo que Deus destina.

CRIADA
Hei-de pedir-Ihe a rezar
Para me dar boa sina.

CAIXEIRO
Porque é que tu não desejas
Para sina este amor louco.

CRIADA
Porque ele é como as cerejas
São boas mas deram pouco.

CAIXEIRO
Andavas sempre calçada
Vestias coisas bonitas

CRIADA
Eu só estou acostumada
A riscados e a chitas.

CAIXEIRO
Anda cá não tenhas medo
Não tens para isso razão
Que eu sei guardar um segredo
No fundo do coração.

CRIADA
Esteja quieto seu demónio
Que a bilha pode quebrar
E depois nem Santo António
É capaz de a concertar.

FADO DO PRESO

Já dois crimes cometi
E por ambos fui julgado
Vou amanhã p´ró degredo
A vinte anos condenado.

Nasci de pobre mulher
A quem ele abandonou
As esmolas pelas vizinhas
Foi o dó que me criou.
Em ninguém, vi o desejo
De me dar na cara um beijo
Depois que ela faleceu.
Só por desgraça vivi
Porque sendo assim tão novo
já dois crimes cometi.

Era já um homem feito
Quando um dia por azar,
Entrei, não estando ninguém,
Na venda do meu Iugar.
E vinte escudos roubei
Da gaveta que arrombei.
Bebi entrei em desordem
Onde um foi assassinado,
Fora eu quem fiz o crime
E por amigos fui julgado.

Colmo da minha cabana
Nunca mais me cobrirás,
Cemitério da minha aldeia
Meus ossos não comerás,
Ribeiro de águas correntes
Onde nas tardes mais quentes
O meu corpo refresquei,
Eu vos digo adeus bem cedo.
Que em cumprimento da lei
Vou amanhã p´ro degredo.

A ninguém deixo saudades
E poucos de mim têm pena,
Mas talvez para o castigo
A vida seja pequena.
É preciso a sociedade
Livrar da minha maldade
Os juízes me disseram,
Para vir regenerado
Assinaram a sentença
A vinte anos condenado.

A ALCOVITEIRA

Foste comigo um ingrato
Namoro quero acabar,
Pois ontem quebraste a jura,
Fizeste triste figura
E foste preso em Tomar.

Não passes cá
Não te hei-de ver
Vai para Tomar,
Vou-te esquecer

Assim que veja do céu
Desaparecer o luar
Do quintal à janelinha
Aquela que é mais baixinha
Que me venha então falar.

toda a noite
Abraçadinhos
E entre abraços
Muitos beijinhos.

Que recuso os seus presentes
Pelo preço que ele quer,
Não preciso dos sapatos
Uso doutros mais baratos
Vão dá-los a quem quiser.

Não caio nessa
Tão grande asneira,
Ele casado
E eu solteira.

Que me espere ali à fonte
Esteja certo eu lá vou ter
Pouco depois da noitinha
Eu saio sempre sozinha
já não tenho que fazer.

Vão os patrões
P´rá cama cedo,
Eu vou contigo
Não tenho medo.

Que de uma vez o despeço
Não me torne a voltar cá,
Fui à praia este verão
E deixei o coração
Apaixonado por lá.

Não me persiga
E não me masse
Da minha porta
Ao Ionge passe.

MOTORES

Dois pobres motores
Cheiinhos de dores
Que estão muito mal.
Que vida tão dura
De tanta amargura
Ali na Central

Mal vem o Sol-posto
Começa o desgosto,
Trabalho a valer.
E até madrugada
Sem hora folgada
É sempre a bater.

Os tais empregados
Tiranos malvados
Sem pena de nós.
Aí p´la uma hora.
Pisgam-se p´ra fora
E ficamos sós.

E voltam p'ra casa
Co´o estômago em brasa
E vão-se deitar.
Fazemos ruídos
Nunca mais ouvidos
Que estão a roncar.

Um tal Zé do Côto
Tão mau, tão maroto
Que mal nos tratou
Com trabalhos aflitos
Que nomes bonitos
Ele nos chamou.

E um maluquinho
Pequeno e magrinho
Que veio depois,
Armou, desarmou
Lixou, martelou
Estafou-nos os dois.

De longe viemos
E aqui lhe trouxemos
A luz sem rival.
Ai mas não nos batam
Que à trolha nos matam
Ali na Central.


MOTOR GRANDE

Olhem-me p´ra isto
Eu pareço um Cristo
´stou feito em bocados.
O injecta estúpido
Um braço partido
Os bronzes queimados

MOTOR PEQUENO
Eu tão pequenino
Era esperto e ladino
O estado em que estou,
Estragam-me a bomba
Co´um soco na tromba
A cabeça estalou.

MOTOR GRANDE
De todo enterrado
Há meses parado
A vida me farta.
Não haver quem peça
Que venha depressa
Um raio que me parta.


MOTOR PEQUENO

Gemendo e chorando
Castanha levando
Eu cá me aguento
Com tanto trabalho
P´ra pouco já valho
E um dia rebento.


OS DOIS

Em que hora maldita
De tanta desdita
E por nosso mal
Nos foram prender
Para ali jazer
Naquela Central.

O POLÍTICO
Na farpela, meus senhores,
Eu uso todas as cores,
Branqueado
Azulado
O encarnado
E viro-a todos os dias.

Nos tempos de outra senhora
Que há muito se foi embora,
Fui franquista
Progressista,
Alpoinista,
Em dois anos, pouco mais.

Quando ganhou a Rotunda
E acabou a barafunda,
Fui presente
De repente
Ao presidente
Dei vivas à liberdade.

Pôs o meu nome na lista
Dum grande centro almeidista
Aproveitei
E votei
Já não sei
Quantas moções liberais.

E quando teve o penacho
O Dr. Brito Camacho
Romarias
Cortesias
Fui uns dias
Fazer ao centro da Luta.

Fui democrata danado
Estive, também filiado
No partido
Mais unido
Destemido
Do Dr. Afonso Costa.

Arrependido fiquei
Dos erros me confessei
E contrito
Muito aflito
Fui inscrito
Na católica facção.

Em chegando a Portugal
O Dr. Cunha Leal
Se ele vem
Inda bem,
Lá me tem
Na união liberal.

Enquanto a ausência dura
Meto-me na ditadura
Sem demora
Que isto agora
´star de fora
Não dá nada, não se atura,

Corro ao vento de feição
P´ra virar tenho um jeitão
São demais
Os ideais
Todos Iguais
Melhor é quem dá mais pão.


D. ELVIRA

Conhecem a D. Elvira,
Sempre toda bem postinha,
Um amor...
A quem os homens perseguem
Tanto velhos como novos
Com ardor...

Com cheirinhos delicados
Me costumo há muito tempo
Perfumar,
Arrebitam o nariz
E vem tudo atrás de mim
A cheirar.

Às vezes mostro de longe
O que trago escondido
No cestinho.
Não há um só que resista
Ao prazer de vir provar
O biquinho.

Outro dia um velhote
Muito rico e barrigudo
Era assim.
Veio pela Avenida acima
A pedir todo meiguinho.
Dê-mo a mim.

Mas eu fugi-lhe aos encartes
Ficou de beiço caído,
Amuou.
De longe fiz-lhe negaças
Mostrei-lhe o bico a dizer
Não lho dou.

Uni certo moço janota
Bonito, desempenado,
Lindo olhar.
Quando eu estava distraída
O meu bico conseguiu
Apanhar.

Deu-lhe logo uma dentada
Ficou o bico roído
Mesmo aqui.
Ele foi muito maroto
E eu culpa não a tive
Que não vi.

Mas ´inda ficou bastante
Se algum senhor desejou
Quer provar.

Ninguém quer, então adeus,
No restinho o lindo bico
Vou guardar.


ROMÃO E A SOPEIRA

ROMÃO
Mi Dios que barbaridad
Que grande cançasso apanho
Nunca vi em vida minha
Tesoura deste tamanho.

SOPEIRA
Há por cá muito maiores,
Tem visto pouco o Romão,
Amole-me isto depressa
Preciso dela ao serão.

ROMÃO
Amolo, amolo,
Que toda a vida amolei:
Tesouras deste tamanho
Só nesta terra encontrei.

SOPEIRA
E esta faca
Que aqui trago p´ra afiar
Como está cheia de bocas
Não é capaz de cortar.

ROMÃO
La Guardia Civil em Espanha
Usa sabres mais pequenos
P´ra que quieres faca tan grande
Guapa niña de mis sueños?

SOPEIRA
P´ra cortar línguas somente,
São mais duras do que o ferro
As línguas de certa gente.


ROMÃO

Amolo, amolo,
Que toda a vida amolei:
Mas facas deste tamanho
Só nesta terra encontrei.

SOPEIRA
Ainda bem
Com elas afiadinhas
Como vou arreliar
Encher de inveja as vizinhas.

OS DOIS
Amolo, amolo,
P´ra cortar línguas danadas
Só grandes facas, tesouras,
E sempre bem afiadas.


TESOURA E FACA

AS DUAS
Sempre amigas, sempre unidas,
Vivemos alegremente,
E vamos passando a vida
A cortar em toda a gente,

TESOURA
Corto com desembaraço,
Muita gente me receia,
Porque algumas vezes faço
Uns cortes na vida alheia.

FACA
Eu também corto e recorto
E em sendo pessoa amiga,
Até as verdades corto
Para fazer a intriga.

TESOURA
Aí corta, corta,
Corta bem minha amiguinha,
Sentadinha à tua porta
Com a comadre vizinha.

FACA
Ninguém, ninguém,
Tanto servicinho faz,
Porque se uma corta bem
A outra não lhe fica atrás.

TESOURA E FACA.
São geralmente os doutores
Que nos dão mais que fazer.
E cortar nesses senhores
É um dobrado prazer.

FACA
Os vereadores actuais
Se deixarem o poder,
Também devem ser dos tais
Que dão muito que fazer.

TESOURA
Mas se assim for a casaca
Do ilustre presidente,
Não se corta com a faca
Corto-a eu certamente.

FACA
AI, tesourinha,
Deixa-me cortar também,
Que cortar nessa gentinha
Deve saber muito bem.

TESOURA
Vamos a ver
Talvez te diga que sim
Pois há tanto que fazer
Que é demais p´ra mim

Má Lingua XII

2.º ACTO

CORO DO RANCHO

CORO
Oh ih oh ai
O trabalho é alegria
Ganho o pão de cada dia,
É nos grato ao paladar.
Oh ih oh ai
Pedir a Nosso Senhor
Que proteja o nosso amor
E forças para trabalhar
Oh ih oh ai
Vamos para os torrejanos
Vamos lá todos os anos
Para azeitona apanhar
Oh ih oh ai
Alegres rindo e dançando
P´ra as saudades ir matando
Que deixamos no Iugar.


ELE

Fui ontem à capelinha
Pedir junto do altar,
Para a Virgem destinar
Que fosses um dia minha.


ELA

Não vale a pena rezar
Com tão grande devoção
Que ao Santo do meu altar
Eu já dei o coração.


CORO

Oh ih oh ai
O trabalho é alegria
Ganho o pão de cada dia,
É nos grato ao paladar.
Oh ih oh ai
Pedir a Nosso Senhor
Que proteja o nosso amor
E forças para trabalhar
Oh ih oh ai
Vamos para os torrejanos
Vamos lá todos os anos
Para azeitona apanhar
Oh ih oh ai
Alegres rindo e dançando
P´ra as saudades ir matando
Que deixamos no Iugar.

ELE
Foste entregar oiro fino
De rendilhados primores
Para comprar um destino
Feito de mágoas e dores.


ELA

Deixa lá os meus amores
Não tenhas deles ciúmes,
Que há espinhos nalgumas flores
De delicados perfumes.


CORO

Oh ih oh ai
O trabalho é alegria
Ganho o pão de cada dia,
É nos grato ao paladar.
Oh ih oh ai
Pedir a Nosso Senhor
Que proteja o nosso amor
E forças para trabalhar
Oh ih oh ai
Vamos para os torrejanos
Vamos lá todos os anos
Para azeitona apanhar
Oh ih oh ai
Alegres rindo e dançando
P´ra as saudades ir matando
Que deixamos no Iugar.

ELE
Oxalá que não te esqueça
E tenhas sempre na mente
Que as flores murcham depressa
E ficam espinhos somente.

ELA
Hei-de arrancar-lhe os espinhos
E até se me não engano,
Com o calor dos meus carinhos
Terei flores todo o ano.


O NAMORO

Noivámos, a testemunha
Foi o luar de Janeiro
Tinhas as mãos geladinhas
O coração um braseiro.

ELA
O coração um braseiro
Que senão há-de apagar
O culpado foi o teu
Por o fogo lhe pegar.

CORO
Oh ih oh ai
O trabalho é alegria
Ganho o pão de cada dia,
É nos grato ao paladar.
Oh ih oh ai
Pedir a Nosso Senhor
Que proteja o nosso amor
E forças para trabalhar
Oh ih oh ai
Vamos para os torrejanos
Vamos lá todos os anos
Para azeitona apanhar
Oh ih oh ai
Alegres rindo e dançando
P´ra as saudades ir matando
Que deixamos no Iugar.

2006/03/22

Má Lingua XI

PETRÓLEO E LUZ ELÉCTRICA

PETRÓLEO
Vem cá, luz q´rida,
Não fujas tanto,
Vês que te adoro
Que és meu encanto.


LUZ

Não me persigas
Que eu não vou lá,
Mau companheiro
Você será.


PETRÓLEO

Já vidros novos
Aqui lhe pus
Mesmo com vento
Inda dou luz.


LUZ

Tu és teimoso
Já disse não,
E deita fumo
O teu morrão.

PETRÓLEO
Estás enganada
Minha querida
Trago a torcida
Aparadinha.


LUZ

Deus me livrasse
De fazer tal,
Pois tu às vezes
'Té cheiras mal.


PETRÓLEO

O meu petróleo
Tem bom odor,
Não vês que a marca
É uma flor.


LUZ

Ai não me masses
Vai passear
Tu só te acendes
Sem luar.


PETRÓLEO

Aos teus fregueses
Bem cara sais
Inda por cima
Contas demais.


LUZ

Contadores novos
A conta é exacta
Porque os antigos
Vão p´ra sucata.


PETRÓLEO

E quantas vezes
Não lembra já
Tu te apagavas
P´ra vir o chá.


LUZ

De cotovelo
'Stás co'uma dor
Aqui não tornas
Os pés a pôr.


PETRÓLEO

Disso serão,
Eles capazes
Era melhor
Fazermos pazes.


LUZ

0h Petrólino
Que me enfastias,
Põe-te a cavar
P´ra Caxarias.


PETRÓLEO

Vem cá, luz q´rida,
Não fujas tanto,
Vês que te adoro

Que és meu encanto.

2006/03/19

Má Lingua X

OS BARBEIROS

Nós somos três
Que ensaboamos
Escanhoamos
E rapamos
A cara a qualquer freguês.

Nós somos três
Que lavamos
Penteamos
Alindamos
A cabeça de um freguês.

Nós somos três
Com cheirinhos
Brilhantina
Amaciamos
Os cabelos mais rebeldes.

Nós somos três
Que à madame
Lhe cortamos
O cabelo
À Garçonne, à Joãozinho

Nós somos três
Que em seguida lhe rapamos
Com cuidado
O pêlo do pescocinho.

Nós somos três
Que ao marido
Complacente
Que consente
Lhe fazemos caracóis.

Nós somos três
p´ra lavar
E pentear
E alisar
Os três somos sem rival.

Nós somos três
Que a cabeça ao carequinha
Lhe assentamos
Penteado capachinha.

Nós somos três
Que os bigodes
Do velhote já caídos
Pomos em pé outra vez.

Nós somos três
Que os cabelos
Todos brancos
Num instante
Fazemos louros ou preto

Nós somos três
Que os cabelos
Todos lisos
Escorridos
Fazemos em ondulado.

Nós somos três
Que à francesa
Ou à inglesa
Ou à escovinha
Os cabelos aparamos.

Má Lingua IX

A MENINA DO BALÃO

Faz a sopeira goifonas
Ao Virgolino, patrão,
Depois queixa-se e quer massas
Patego, olha o balão.

O compadre Zé Inácio
Era um grande espertalhão,
Contava as notas à noite,
Patego, olha o balão.

À taberna da Garçone
Foi um certo figurão,
Foi ao cheiro e não provou,
Patego, olha o balão.

Um velhote apaixonado
Na farmácia do Leitão
Comprou pós de bem-querer
Patego, olha o balão.

2006/03/18

Má Lingua VIII

O SACRISTÃO

Tlim, Tlim, Tlim
Quando eles levam massinha
Também ganha o sacristão.
Tlim...
Vão lá por na sacristia
O milhinho e o feijão.
Tlim...
E vai lá este ratito
E leva parte do grão.
Tlim...
Quando a pedincha vai boa
Que mina p´ró sacristão.
Tlim...
Do azeite que sobeja
Levo uma amostra para casa
Tlim...
Inda fica a lamparina
Quase cheia, quase rasa.
Tlim...
Levo os cotinhos das velas
Para alumiar ao serão
Tlim...
Que de enterros e batisos
Os repiques nada dão.
Tlim...
E quando há festas maiores
Com fogaças e com flores
Tlim...
Tenho aqui esta chavinha
Que é da casa dos andores.
Tlim...
Cá vou girando atrás deles
Sempre alguma coisa cai
Tlim...
Param em todas as vendas
E um copito sempre vai.
Tlim...

A CEGADA
CORO
Olé, Olé, Olé
Esta vida é um canudo,
Toca a gozar na paródia
Agora pelo entrudo.
Olé, Olé, Olé
Esta vida pouco vale
Vemos lá p´rá berzundela
E quem quiser que se rale.
Olé, Olé, Olé
Esta vida é um tamanco
Que não vale uma sardinha
E duas celhas do branco
Olé, Olé, Olé
Esta vida pouco vale,
Ele... alguns até parece
Que andam sempre em Carnaval

CAMPINO
Onde vaia minha q´rida
Com janota tão garrido?
Tira daí as patinhas
Não te faças atrevido.

JANOTA
Vamo-nos juntar os dois,
Não damos satisfação,
O que tem você com isso,
Seu campino sem brigão?

CAMPINO
Não te ligues ao pinoca
Que ele não sabe o que diz
Não troques o lindo Tejo
P´las tristes margens do Liz.

JANOTA
Vais gozar melhoramentos
Vais ter ruas calcetadas,
Em cada largo um jardim
Com águas canalizadas.

CAMPINO
Não te fies em promessas
Não vás no bote embarcar,
Mais do que eu te tenho dado
Não é capaz de te dar.

JANOTA
Deixa lá esse campino
Tratar cavalos e bois,
Vem comigo p´ra Leiria,
Vida faremos os dois.

CAMPINO
Mas isso não vai assim
Sem haver trolha valente,
Afocinhas que é uma graça,
Ai se te pego de frente.

RAPARIGA
Entre dois apaixonados
Não sei p´ra quem me voltar.
Se fique com Santarém
Se a Leiria me ligar.

JANOTA
Valentões do Ribatejo
Não metem medo a ninguém,
Vem comigo, meu amor,
Desliga de Santarém.

CAMPINO
Chega-me a mostarda às ventas.
E vai sair grossa asneira,
Levas já uma patada
Saltas num instante a trincheira.

POLICIA
Na frente da autoridade
É porivido o motim,
Se desatam à galheta
Vão os dois para o estarim.

O DA VIOLA
P´ra não haver zaragata
É melhor, estas a ver.
A menina dentre os dois
Cal é que quer escolher?

POLICIA
Falou bem, sou da viola,
Bocê é que tem rezão,
Quer Leiria ou Santarém,
Diga sim, ou diga não.

RAPARIGA
Não é feio este rapaz
Tem assim um tipo fino,
Mas amor de cá de dentro
Eu tenho mais ao campino.

JANOTA

Pertence-me esta menina,
Se quer ver, senhor soldado,
Eu trago aqui no meu bolso
Um grande abaixo-assinado.

CAMPINO
Guarde lá esse papel
Oh seu trouxa, oh gabirú,
Pode deitá-lo no lixo,
ou então limpar-lhe o...

CORO
Olé, Olé, Olé
Esta vida é um canudo,
Toca a gozar na paródia
Agora pelo entrudo.
Olé, Olé, Olé
Esta vida pouco vale
Vemos lá p´rá berzundela
E quem quiser que se rale.
Olé, Olé, Olé
Esta vida é um tamanco
Que não vale uma sardinha
E duas celhas do branco
Olé, Olé, Olé
Esta vida pouco vale,
Ele... alguns até parece
Que andam sempre em Carnaval

2006/03/17

Má Lingua VII

FESTEIROS DE SANTO ANTÓNIO

CORO
Vem St.º António
Foge o demónio
E as tentações,
P´ró festejar
Quem nos quer dar
Alguns tostões.


FESTEIRO

Um rapaz co´a namorada
Ali na feira do mês
Perdeu um escudo que tinha,
Ou não soube o que lhe fez.
Reza o responso ao santinho:
Perdeu um e achou três.


CORO

Vem St.º António
Foge o demónio
E as tentações,
P´ró festejar
Quem nos quer dar
Alguns tostões.


FESTEIRO

Um velhote já corcunda
E achacado do peito
Foi rezar ao nosso Santo
Coitado, em pranto desfeito,
E ficou sem a marreca
Muito tesinho e direito.


CORO

Vem St.º António
Foge o demónio
E as tentações,
P´ró festejar
Quem nos quer dar
Alguns tostões.

FESTEIRO
O João de Penigardos,
Desempenado e valente,
Na inspecção apurado,
P´rá tropa foi descontente;
Ao namoro à despedida
Deu um bebé de presente.


CORO

Vem St.º António
Foge o demónio
E as tentações,
P´ró festejar
Quem nos quer dar

Alguns tostões.

2006/03/16

Má Lingua VI

VARREDORES

Aqui estão os dois Antónios
Levadinhos dos demónios,
P´ra limpar e p´ra varrer
E para o lixo levar
Aqui estão os dois Antónios.

Temos um carro novinho
Que leva todo o esterquinho
Pelas ruas espalhado
E p´ro o lixo encaixotado
Temos um carro novinho.

Temos um bonet de pala
Parecemos um magala
Impedido de serviço,
já ninguém conhece o Piço
Temos um bonet de pala.

O chouriça quem conhece
Digam lá se não parece
Um janota bem vestido,
Neste balandrau metido
O chouriça quem conhece.

Uma bela campainha
Para acordar a vizinha
Que cá do lado de fora
Não põe o caixote à hora
Uma bela campainha.

Fica tudo regadinho
Com água do Ribeirinho
Já não há pó nem calor
Trabalhando com ardor
Fica tudo regadinho.

Ai quando na vila entrou
O macho que ele comprou
Mas que grande animação
Convites p´ra recepção
Ai quando na vila entrou.

Ficou tudo embasbacado,
Boca aberta admirado,
Quando o macho lá chegou
Em mula se transformou
Ficou tudo embasbacado.

Inda temos mais trabalho
Trazer a carne p´ro talho
A gente nunca descansa,
Nos dias em que há matança
Inda temos mais trabalho.

Agora vamos à vida
Fica feita a despedida
Temos muito que fazer:
É limpar, regar, varrer

Agora vamos à vida.

2006/03/15

Má Lingua V

FADO DO MENDIGO

Mendigo desde criança
Porque a minha santa mãe
Não me deixou outra herança
Por ser mendiga também.
Durmo só pelos caminhos
Ladram-me os cães dos casais
Só sei o que são carinhos
Quando entro nos hospitais.
Quando às vezes sem ter pão
Tenho fome peço a Deus
Que me dê por compaixão
Um caminho lá nos céus.
E nem ele me consola
Que é tão negra a minha sorte
Que nem sequer por esmola
Deus tem para mim a morte.

O MERCADO

Tenho uma praça abundante
Vendo de tudo a fartar
Trago porcos e marrãs
E de leitões um milhar.

Este negócio dos porcos
Eu faço sempre ao avesso
Se desço a carne na feira
Na banca subo-lhe o preço.

Encho a travessa ao Madrufa
De frangos e pintainhos
De cabritos galinhas
E de coelhos gordinhos.

Ali à porta do Jorge
Ovos vendo às centenas
Gansos e patos marrecos
E outros bichos de penas.

Aos que compram p´ra negócio
Eu vendo antes do meio-dia
Faço às sopeiras coitadas
Com isso grande arrelia.

Há mesas com bugigangas
E barracas com riscados
Se a venda me corre bem
Olha os lojistas danados.

Melancias e melões
Peras, maçãs com fartura
Trago fruta todo o ano
Quer seja verde ou madura.

Ali por traz do comboio
De cereais o mercado
São favas, aveia e trigo
Milho bom e do furado.

Em carroças e jericos
De trazer não mais acabo
Couves, alfaces e grelos
Grandes cabeças de nabo.

Feijão verde, e carrapato,
É em grande quantidade,
Vendo pepinos, tomates
Dos de melhor qualidade

E terminadas as vendas
Bebe a gente uma pinguinha,
No final feitas as contas
Levo p´ra casa a sardinha.

O REPOLHO

REPOLHO
Sou a melhor hortaliça
Que vem aqui ao mercado,
Pegue-me aqui no pé
Veja como sou pesado.

BRASILEIRO
Ai que até me faz cobiça
Que beleza de hortaliça.

REPOLHO
Sou cortado em Fungalvaz
Chego aqui sempre fresquinho
Sou tenrinho e sou gostoso
De folhas apertadinho.

BRASILEIRO
Deixa cá ver-te por traz
Repolho de Fungalvaz.

REPOLHO
Pode ver à vontadinha
Desde o pé até ao olho,
Que tão bom e tão barato
Não encontra outro repolho.

BRASILEIRO
Ai repolhinho tão são
Que apanho uma indigestão.

REPOLHO
Farta muito este repolho
Não pode comer demais.
Se tem o estômago fraquinho
Fica para aí aos ais.

BRASILEIRO
Eu não sei... há Tempo já
Repolho não entra cá.

REPOLHO
Chegue-me azeite e pimenta
E marcho que é uma beleza
Mastigue bem mastigado
Que lhe não dou na fraqueza.

BRASILEIRO
Eu temperarei o molho
E quanto custa o repolho?

REPOLHO
Custa-lhe bem baratinho
Vai-se até admirar
Dá-me apenas dez escudos
E é pegar ou largar.

BRASILEIRO
Dez escudos tu não vez
Não te dou mais do que três.

REPOLHO
Mais do que isso gastei eu
Nos adubos e na amanha
Nem couves e das mais chocas
Por esse dinheiro apanha.

2006/03/10

Má Lingua IV

PENSÕES

Duas pensões alegres, divertidas,
A capricho da moda bem vestidas,
Vizinhas e amigas dedicadas;
As duas mais gentis, mais procuradas.

Comida bem feitinha, apetitosa,
A contentar a boca mais gulosa;
Damos doce, café e belos vinhos,
Boa fruta, pastéis, vários bolinhos.

Não procurem outras casas
Não há preços mais baratos,
Ao almoço damos três
Ao jantar uns cinco pratos.

Os quartos bem arrumados,
Limpinhos, assoalhados,
Com janelas arejadas
O pessoal com decência.

As camas são luxuosas,
Macias, deliciosas,
Estamos ambas desejosas
De servir Vossa Excelência.

Está tudo pronto e a horas,
As criadas sempre a pé.
Basta só bater à porta,
Entrar e dizer quem é.

ESPADA
Dou aos hóspedes refrescos
Pelas horas de calor.
Eu preparo uns pirolitos
De marca superior.

OURIENSE
E para os meus entreter
Em divertido serão,
Dou bailes p'lo Santo António,
P'lo S. Pedro e S. João.

ESPADA
Gasosas e laranjadas
E refrescos de limão,
Venha daí vocelencia
Venha daí p´ra pensão.

OURIENSE
Danço polcas e mazurcas
E ensino-o a valsar
Venha daí p´ra pensão
Venha comigo dançar.

2006/03/09

Má Lingua III

CENTRAL E MAGAREFE

A mais antiga
Hospedaria
É a Central.
O servicinho,
Comida e cama
É especial.
Na sua mesa
Nunca lá entra
O bacalhau.
Há muito aceio
E dos seus quartos
Nenhum é mau.
E tem bons modos
Boas palavras
O pessoal.
Luz à antiga
Bem situada
É a Central
E das janelas
Vêem-se vistas
Que não são más,
São pitorescas
Principalmente
Ao Iado e atrás.
Melgas, mosquitos
Ou outros bichos
Não entram lá
Dificilmente
Melhor que isto
Encontrará.
Á portuguesa
Dá petisquinhos
Que são daqui.
E cozinheira
Como a que tem
Eu nunca vi.

2006/03/07

Má língua II

TREMOCEIRAS

CORO

Olha o belo do tremoço
Bem medido e bem molhado.
É fresquinho e é gostoso,
É barato, é quási dado.

1.ª TREMOCEIRA

Em calma tarde de outono
Fomos nós que o semeámos,
Inda não tinham florido
Bem verdinhos os sachámos.

Fomos depois apanhá-los
Em quente manhã de verão.
Abençoados trabalhos
Que tantos frutos nos dão.

Nossas mãos de raparigas
Os foram pôr a molhar
Uma noite na ribeira
À linda luz do luar.

E as águas dessa ribeira
Passando devagarinho
Tiraram-lhe o amargor
E ficou assim docinho.


CORO

Olha o belo do tremoço
Bem medido e bem molhado.
É fresquinho e é gostoso,
É barato, é quási dado.

2.ª TREMOCEIRA

Os tremoços têm virtude
São tremoços encantadas
Comprai, comprai raparigas,
Ofereçam aos namorados.

Valem mais estes tremoços
Que de amor muitas cantigas,
Vinde comprá-los rapazes
Ofereçam às raparigas.

3.ª TREMOCEIRA

E a gente de mais idade
Quando come este tremoço,
Fica a velha contentinha
E o velho fica mais moço.


CORO

Olha o belo do tremoço
Bem medido e bem molhado.
É fresquinho e é gostoso,

É barato, é quási dado.

2006/02/28

Abastecimento de água à Vila

Afim de tratar do projectado abastecimento de água a esta Vila, esteve na passada segunda-feira entre nós, o Engenheiro Leitão dos Serviços Hidráulicos do Ministério das Obras Públicas e Comunicações, que conferenciou largamente com o Presidente da Câmara, Senhor Capitão Vieira Justo sobre o assunto.

Como já temos tido ocasião de referir, a nossa Vereação está altamente interessada em dotar a sede do concelho de um excelente serviço de abastecimento de água, para o que já foi feito o conveniente estudo pelo Eng. Pais Clemente, e cujo projecto deu entrada há tempos na Repartição superior competente. Por esse projecto a água será captada na Caridade onde abunda, e é de óptima qualidade segundo o parecer já formulado pelo Instituto Superior de Higiene.

No “Noticias de Ourém” a 17/11/1940.

2006/02/26

trio

Germano - Vidrinhos - Lili

2006/02/25

2006/02/21

Futebol

Dão-se alvíssaras a quem souber quem é este craque.

2006/02/13

Craques

Zé Paulo - Brito - Rui Facas - Lili - Farrica
César Adão - Carlos Pinheiro - Zé Luis Faria - Armindo - Tó Adão

2006/02/09

Desporto

Equipa de futebol de salão dos BVO

2006/01/24

O Parque da Vila

Iniciou, em tempos, a nossa Câmara, num rasgo impetuoso a desempoeirado, a execução dum vasto plano de melhoramentos urbanos, que tiveram, por assim dizer, o seu ponto de partida, no ajardinamento do largo fronteiro aos Paços do Concelho. Deste plano - que nem por ser grandioso deixava de ser exequível -fazia parte, como complemento do jardim Municipal - hoje uma risonha realidade, se bem que susceptível de reparos - um bem delineado Parque, que, uma vez concluído, constituiria o ponto de reunião preferido por todos aqueles que, fartos duma vida sedentária, quisessem procurar, no conchego da sua sombra, o lenitivo para as ardências do estio e, na pureza da sua atmosfera, o são alimento dos seus pulmões intoxicados.

Ora, com grande mágoa nossa, vimos que os trabalhos encetados para a consecução deste melhoramento, foram interrompidas a breve trecho (tendo-se limitado a uma simples remoção de terras), a que a urbanização do extenso tracto de terreno existente entre a residência do Sr. Dr. Andrade e Silva e a escola Conde de Ferreira, ficou confinada ao largo deste nome, sem esperanças – pelo menos por ora – de a vermos completada com o projectado Parque, obra esta, que serviria, simultaneamente, a estética e a higiene da Vila: - a primeira pelo embelezamento dum local que só tem de boa a sua extensão; a segunda pelo implícito afastamento da feira de gados do centro da terra e pela influencia que a sua espessa vegetação viria a ter no saneamento do ar, que respirássemos.

Actualmente, se por necessidade fisiológica ou meramente recreativa nos dispusermos a dar um passeio após o jantar, teremos de escolher entre a Praça da Republica – que pela sua exiguidade e má conformação nos obrigará a voltas a contravoltas que acabarão por estontear-nos – e a poeirenta estrada nacional, cuja similitude com as artérias londrinas é flagrante, não pelo asfalto do seu piso nem pela sumptuosidade das suas edificações, mas, simplesmente, pelo denso nevoeiro, que, permanentemente envolve uma a outras. No entanto, ao passo que a má, visibilidade nas ruas da grande urbe inglesa, é o reflexo dum conhecido fenómeno meteorológico, entre nós é devida a verdadeiras vagas de poeira e imundície, em suspensão na atmosfera, constituindo magníficos caldos de cultura microbiana, que mantêm a principal artéria da Vila em constante guerra aberta com o organismo dos desprevenidos transeuntes que por ela se afoitem.

Por tudo isto e muitos outros motivos, pode-se avaliar a lacuna, que a efectivação dum tal projecto viria preencher, num meio, em que tanto se faz sentir a falta de locais apropriados a tonificação do corpo e do espírito.

Seria também o Parque o ambiente idóneo para a audição de bons concertos musicais, que a nossa Banda nos proporcionaria – pois eu ainda não perdi a esperança de que melhores dias hão-de surgir para ela – e, para isso, deveria ser ali construído o respectivo coreto, o que poderia muito bem fazer-se mesmo antes deste almejado recinto ser uma realidade.

É também evidente necessidade, olhar desde já, com atenção, para as ruas de acesso ao largo de cuja urbanização vimos tratando, pois qualquer delas oferece uma exuberância de pormenores pouco convidativos, que as coloca em manifesta desarmonia com as funções de ligação que desempenham, mormente aquelas que pela sua importância já tiveram a honra de serem baptizadas – que das outras nem é bom falar, por serem verdadeiras vielas de aldeia sertaneja.

Pensemos muito a sério e com afinco na realização de tão importantes melhoramentos, que eles serão – a par da comodidade que para nos representam – os melhores cartazes de propaganda da nossa terra!

Luiz Rito

No “Noticias de Ourém” a 19/08/1934