2005/06/09

Violento incêndio

Vila Nova de Ourém, 6 de Março de 1938.

Na noite de quinta para sexta‑feira foi a população desta Vila alarmada com o toque de sinos a rebate motivado por um violento incêndio, que se manifestara num prédio sito à Praça da República, pertencente ao Sr. Joaquim Vieira Verdasca, e do qual é inquilino o Sr. Agostinho Roque, professor oficial nessa Vila. Este senhor, sua família e ainda duas criadas, dormiam profundamente, quando algumas pessoas que se dispunham a seguir para a estação de Chão de Maçãs onde iam tomar o comboio das 4 horas da madrugada, lhes foram bater desesperadamente à porta, avisando-os do perigo que corriam. Altas labaredas devoravam já nessa ocasião, com sanha destruidora, o vigamento do telhado, e lambiam numa ameaça sinistra, as paredes dos prédios vizinhos, dando a impressão que, dentro em breve, tudo ficaria reduzido a cinzas e escombros. Foi então que surgiram, numa vaga de esperança, os Bombeiros Voluntários desta Vila, no seu “Pronto-Socorro”, para dar início, prestos e ousados, à nobre tarefa de socorrer vidas e haveres em perigo. E foi com a maior satisfação que constatámos que os briosos rapazes, auxiliados pelos populares, se portaram à altura das suas responsabilidades, dominando a catástrofe com tal galhardia, que, em poucos minutos, o incêndio estava localizado e, pouco depois, extinto. Vê-se portanto – o que aliás sempre temos frisado – que dentro da Corporação dos Bombeiros existem elementos de in­discutível valor, que é preciso aproveitar, enquadrando-os de vez num conjunto harmónico e disciplinado, capaz de criar à volta da benemérita colectividade o denso ambiente de confiança e carinho a que, a sua nobre missão, tem direito. Repetimos – sem a sua eficaz intervenção, Ourém teria agora a lamentar importantes prejuízos materiais, senão até a perda de preciosas vidas. Bem hajam por isso.

No local do sinistro compareceram ainda no seu “Pronto-So­corro” os Bombeiros de Tomar, que não chegaram a prestar serviço por motivo da rapidez com que o incêndio foi dominado pelos Bombeiros locais, No entanto causou a mais viva admiração a ma­neira rápida e solícita como a valorosa corporação da vizinha cidade correspondeu ao aflitivo apelo que lhe foi feito, pois não mediou mais do que um escasso quarto de hora entre a chamada telefónica e o aparecimento dos Bombeiros Tomarenses, no local do incêndio.

Os prejuízos do Sr. Prof. Roque, são computados nalguns milhares de escudos – em azeite e mobiliário inutilizado; os do proprietário do prédio, Sr. Joaquim Verdasca, estão cobertos pelo seguro.

No “Noticias de Ourém” a 06/03/1938

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