2005/06/15

O Museu Municipal... PARA QUANDO?

Vila Nova de Ourém, 7 de Dezembro de 1984.

O Museu Municipal... PARA QUANDO?

Com alguma frequência se lê e vê, nos meios de comunicação social, informações sobre acções, levadas a efeito em várias zonas do país, tendentes ao levantamento e preservação do património cultural, artesanal e etnográfico da respectiva região. E fazem-no com um respeito e entusiasmo impressionantes. Têm consciência, sem dúvida, da importância do assunto. É que, o património cultural, artesanal e etnográfico representa o esforço, o engenho e o orgulho de um povo. É o que de mais querido esse povo transmite aos seus vindouros. Impõe-se, por tal facto, que os homens do presente o protejam, defendam e respeitem, que é, no fundo, respeitar e defender a sua própria história.

Vem isto a propósito do património histórico, cultural e etnográfico do nosso concelho, que é riquíssimo. Quanto a isto, penso eu, não há novidade para ninguém. Porém, o que a maioria das pessoas, possivelmente, desconhece é que grande parte dele já desapareceu, e o que ainda resta terá, fatalmente, o mesmo destino se não houver alguém que se Interesse pelo assunto. E, o que é lamentável, é que assistimos a isto impávidos e serenos, como se se tratasse de algo que muito pouco ou nada tenha a ver connosco.

Mas, não terá a ver connosco o perpetuar a memória dos nossos antepassados? Caro leitor, isto tem a ver connosco e muito.

No nosso concelho, relativamente a este problema, já algumas vozes se levantaram, inclusivamente já algumas acções foram tentadas, mas tudo isso mais não foi que boas e louváveis intenções, sem resultados palpáveis. Quase tudo, por conseguinte, está por fazer.
A Escola Preparatória de Vila Nova de Ourém encerrou o seu ano lectivo de 1983/84 com uma exposição, bastante publicitária e concorrida, a qual tinha dois objectivos fundamentais: por um lado apresentar o resultado de um trabalho de investigação histórica e levantamento artesanal, levado a efeito pelos alunos, orientados pelos professores. Era um objectivo fundamentalmente pedagógico. Por outro lado pretendeu-se sensibilizar a população e as forças vivas do concelho para a necessidade de se avançar com um trabalho do género, mas muito mais profundo e abrangendo todo o concelho.

A exposição, como disse, foi visitada por bastantes pessoas, porém, quanto às forças vivas, nomeadamente a Câmara, muito poucos elementos a visitaram. E isto é grave, pois, parece-me que é à Câmara, em primeiro lugar, à semelhança do que acontece em outras autarquias, que compete apoiar, estimular, levar a cabo e suportar economicamente o levantamento histórico, artesanal e etnográfico do concelho. Mas, feito com dignidade e com a garantia de um trabalho em profundidade. Ou seja, impõe-se que seja feita a prospecção do espólio existente, proceder-se de seguida, à sua inventariação e respectivo registo, fazendo-se, posteriormente, a recolha desse precioso espólio cultural e etnográfico.

É evidente que isto exige a criação imediata de um museu municipal, onde esse espólio permaneça, devidamente acondicionado e referenciado, transformando-se em lição viva e permanente da história do nosso concelho.

Isto não é tão difícil como isso, até porque a Câmara tem o pelouro da cultura. É no entanto, imperioso que esse pelouro seja dado a um vereador com coragem, amor à cultura e história do concelho, e, também, tenha uma perspectiva de futuro. Necessita, como é evidente de meios, nomeadamente económicos, para trabalhar.

Uma coisa é certa, existem pessoas dispostas a sacrificar o seu já pouco tempo disponível e investi-lo na consecução deste objectivo.

É tempo de os responsáveis autárquicos aos tomarem consciência que o homem é um misto de corpo e espírito, sendo este a parte nobre do homem.

Impõe-se, por conseguinte, avançar com o levantamento cultural, artesanal e etnográfica do concelho.

É urgente a criação do um museu municipal.

Não tenhamos dúvidas, os homens de amanhã julgar-nos-ão pelo que hoje fizermos, e serão impiedosamente críticos no que, por incúria, deixarmos de fazer.
Investir na cultura é apostar no progresso de um povo. É, em suma, semear para colher.

J. F.

No “Noticias de Ourém” a 07/12/1984

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