2005/06/23

Ourém de Ontem II

Vila Nova de Ourém, 11 de Outubro de 1959.
OURÉM DE ONTEM
Por Joaquim Ribeiro
(Continuação do número anterior)

Mais adiante, ao lado da Igreja, as manas Joana e Gertrudes Guimarães, esta conhecida pela madrinha do género humano, tal a quantidade de afilhados que tinha. Aqui vi e ouvi pela primeira vez um gramofone, que com as suas músicas da época chamava a clientela para a compra de chitas e riscados, ou lenços “cachené”, que o falecido António Lopes, pai do nosso Eng., sempre atencioso, lhes ia oferecendo.

Logo pegada, a velha hospedaria de Maria Joana & Irmã, antes explorada por um homem chamado Relógio, talvez porque era pouco maior de que um relógio de espertador, e que era nessa altura a melhor pensão da terra.

A viúva de Francisco Henriques de Oliveira era ao tempo o estabelecimento mais importante – fazendas, mercearias, depósito de tabacos, padaria e armazém de vinhos e azeites. Três empregados de balcão de certa categoria – o António Vieira já falecido, o José Maria Alves Marques, e muitos outros que foram passando a começar no Lúcio careca ate ao Marçal do Desemprego.

Onde é hoje a loja do Pedro foi o cartório dum escrivão de Direito a sapataria do Manuel Freitas da Silva e por último a casa de jantar do Manuel Augusto de Sousa; mais adiante o seu estabelecimento, ainda há pouco tempo a funcionar, com outro dono claro, exactamente como era no meu tempo de marçano há 50 anos, agravado com os estragos que este meio século naturalmente lhe havia de ter causado. Caixilhos ainda tinha alguns, vidros muito poucos.

A Loja do Povo, nascida do lado da Farmácia Leitão tem passado por modificações várias sempre a melhorar, primeiro um estabelecimento vulgaríssimo, com a escada para o 1. ° andar ao meio e uma porta de cada lado. Agora a casa que todos nós conhecemos, com boas montras, a chegar há esquina da Praça.

Nesta esquina a ourivesaria roubada e entre as duas a oficina de alfaiate do Joaquim Claudino.
Cá ao fundo, à direita da Igreja, o chamado “comboio” com um edifício a topo a que poderíamos chamar a máquina, e uns velhos casebres ate à feira das sardinhas, onde estavam instalados a loja de barbeiro do José Morgado, que só abria às quintas, sábados e domingos; o depósito de caldeiras do Dionísio do Outeiro Grande, que só vinha às quintas‑feiras; e ao fundo o Mariano da Violente que como estes quase também só abria nos dias de mercado para vender a “pinga” e a sardinha assada, ali mesmo juntinho ao marçano das mesmas. Havia ainda a oficina de relojoeiro do Manuel António, que, de bicicleta, vinha todos os dias de Seiça onde morava, mais tarde a do José da Costa – o S. João – e ainda o velho Côxo-Rito, com a sua lojeca limpinha onde à segunda‑feira, dia de descanso semanal do comércio, os empregados jogavam o loto ou a glória. Neste lado havia ainda a taberna do Joaquim Ferrador, a do Lirias e a Farmácia Leitão cá mais acima.

Ao banco do Baleco ficava junto a loja do Francisco Lopes Nunes, que primeiro esteve instalada à esquina da praça, em frente do Sotero, e onde tinha estado estabelecido o Álvaro Mendes e para onde foi depois o Já-Cá-Tá; a seguir a loja de barbearia do Manuel Pereira da Fonte e o consultório do Dr. Alves – casas abarracadas mas mais decentes do que o tapume que, neste lugar, há anos ali se encontra. A seguir ainda outro banco, o do Júlio Alves (antes de ter passado para a rua a que atrás me referi) e a taberna da Júlia Teixeira, com o criado “Punciano” que todas as manhãs ia à loja do Sousa buscar um bote de rapé “rapidamente” porque tinha o café a arrefecer. Esta casa foi a seguir explorada pelas manas Gabriel com uma espécie de café.

Depois passou para o Raul de Oliveira Santos, com a sua oficina de funileiro ao canto, e uma loja de comes – e – bebes, e loiças de esmalte.

No pátio, o jogo da laranjinha e ao fundo o de chinquilho, onde depois das 7 e às segundas-feiras, se passavam horas seguidas rolando as bolas no tabuleiro e disputando a primazia de quem melhor punha uma malha a três tentos.

Mas reatando a digressão pelas ruas e largos da Vila chegamos a Padaria Centrai de Salvador & Sapateirinho, donde o “Pinta Santos” saía todas as manhãs, de cabaz ás costas, a entregar o pão fresquinho ao domicílio, então iniciada, pois até ali quem o queria tinha que o ir buscar ao padeiro. Aqui próximo, onde hoje está a Tipografia Ouriense, estava a loja de barbeiro do falecido Adriano e mais adiante a oficina de relojoeiro do Manuel A, onde o Marinho, vindo da Figueira da Foz, iniciou a sua actividade em Vila Nova de Ourém.

A loja do Sotero, era ao tempo um estabelecimento bens instalado.

Edifício próprio, portas rasgadas e bastaste pé direito, e até tinha escritório, o que nenhum outro possuía, não se usava nesse tempo. O escritório era a própria loja e a secretária o balcão. Bem instalado dizia eu, mas com pouca clientela. Ele, o patrão, ia todos os dias para a antiga vila de Ourém, de onde era natural, e a esposa e o empregado pouco faziam. Às quintas-feiras a coisa animava um pouco e então tinha o Amílcar, que vinha da Carapita para ajudar a aviar os fregueses do mercado.

CONTINUA…

No “Noticias de Ourém” a 11/10/1959

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