Assinante do Notícias de Ourém desde o seu primeiro número, assinante e leitor (e às vezes modesto colaborador) que não é bem a mesma coisa, pois o leio sempre de ponta a ponta, e por vezes até os anúncios que não interessam, li também agora, e com particular atenção, a notícia dos nomes a dar às ruas e largos existentes em Vila Nova de Ourém e ainda aquelas já projectadas. Acho que tudo esta bem.
Os meus conhecimentos da história não vão além da contemporânea – do meu tempo – mas tenho ouvido dizer que foi a Rainha D. Maria II quem elevou à categoria de vila a antiga Aldeia da Cruz; que Santa Teresa de Ourém foi canonizada pelo povo, sendo, segundo creio, a única santa nossa conterrânea, e minha mais ainda pois nasceu no meu Zambujal, onde tem a sua capelinha, com uma lapide com as datas do seu nascimento e morte, e onde todos os anos se realiza uma festa em sua honra; que Afonso Gaio foi um poeta e dramaturgo que honrou a terra onde nasceu; que D. Manuel II foi Conde de Ourém, título que sempre usou de preferência a outros que possuía; e aqui já com conhecimento directo – sei também que o Tenente – Coronel Mariano Moreira Lopes é um heróico oficial superior do nosso Exército e um grande amigo dos ourienses e da nossa terra, que é também a sua; que o poeta Acácio de Paiva foi e continua a ser um nome brilhante nas letras portuguesas e que o amor por Ourém ficou demonstrado por mil e uma atitudes desde a referências em muitos dos seus versos à nossa terra, à sua comparência nas manifestações de regionalismo, onde esteve sempre presente; que o Dr. Joaquim Francisco Alves, o benemérito Dr. Alves foi uma figura inconfundível de prestígio e de bondade que dedicou uma vida inteira aos pobres do nosso concelho, ficando assinalada a sua assistência regular durante o período da “pneumónica” quando único médico na sede do concelho quase lhe não sobrava tempo para o descanso indispensável; oferecendo o terreno para a edificação da Casa da Criança, legando ainda, por sua morte, bens que garantem à sopa dos pobres um certo desafogo; e os Bombeiros, para quê falar deles?! Os serviços prestados são de tal monta que vão muito além de tudo que deles se possa dizer.
Pois bem, tudo está certo mas em meu entender incompleto.
Estranho, estranho e lamento não ver englobado nesta lista de nomes a homenagear afixando-os nas ruas e largos da Vila, mais um – o de Artur de Oliveira Santos. Este não foi poeta nem escritor, mas podemos dizer que foi jornalista, pois muito colaborou na imprensa regional nomeadamente no “Notícias de Ourém”, depois de há muitos anos – em 1908 e depois em 1913 – ter fundado e dirigido dois semanários em Vila Nova de Ourém. Não foi santo nem benemérito, por falta de vocação e de recursos económicos. Entretanto se considerarmos benemerência as dádivas do coração ele foi-o, na realidade também.
Mas o que ele foi sobretudo, tanto como muitos e mais do que muitos outros, foi um ouriense cem por cento amigo da sua terra, cem por cento amigo do seu amigo. Foi ele quem há perto de quarenta anos reuniu em Lisboa o primeiro grupo de ourienses para tratar de assuntos de interesse regional; foi ele quem, mais tarde ausente do País, de lá escrevia continuamente animando a comissão do primeiro almoço ouriense realizado em 1935, indicando-lhe nomes, fazendo apresentações; foi ele ainda quem depois sempre acompanhou a comissão organizadora da Casa de Ourém, e não exageramos dizendo que o êxito obtido, se deve a sua colaboração.
E depois sempre o encontramos junto de todas as iniciativas, embora muitas vezes se colocasse em segundo plano. Político sincero e convicto, defendeu sempre os mesmos princípios, mas para além disso estava a sua terra, a nossa Ourém.
Lisboa, 29/06/1960
Joaquim Ribeiro
No “Noticias de Ourém” a 03/07/1960.
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