2006/01/14

A Fundação do Asilo

A 20 de Janeiro de 1946 – há portanto quatro anos – inaugurou-se o Asilo do Hospital de Santo Agostinho. Numa cerimónia simples, precedida de uma sessão solene nos Paços do Concelho, o então Chefe do Distrito, Senhor Coronel Valente de Carvalho, procedeu a esse acto. Vale a pena resumir a história desta nova instituição.

O benemérito Dr. Agostinho Albano de Almeida, falecido em 1890, exarara no seu testamento que quando as receitas do Hospital o permitissem, devia instituir-se um asilo para velhos. Não foram porém, tão propícios os ventos à instituição que lhe consentissem tal encargo. Pelo contrário, as dificuldades amontoavam-se a ponto de se julgar que até o próprio hospital se não aguentaria. No entanto, anos volvidos, foi erguido o edifício para instalação do asilo, sem contudo ser possível pô-lo ao serviço da sua finalidade. Mais anos decorreram e o casarão, abrindo fendas nas paredes, com tectos abaulados ao peso das águas que o telhado não defendia, os vidros das janelas partidos, parecia fadado a nunca mais justificar a designação que ostenta na cimalha da fachada. Funcionavam no seu primeiro andar, em péssimas condições, duas aulas da escola primária feminina. O rés-do-chão servia para bailes e festins da Vila, aproveitando-se assim o espaçoso das suas salas.

No entanto, ao alto, bem destacada, a palavra “AZYLO” sorria escarninha.

Cerca de 1944 a 1945, fizeram se as primeiras tentativas, nessa altura apenas para salvar da ruína o precocemente velho edifício. Reparou-se o telhado, restituiu-se aos tetos das salas a forma plana que o peso da água das chuvas deformara, pintaram-se as madeiras, e estucaram-se interiormente as paredes e exteriormente renasceu lhes a cor da cal.

Antes disso a escola feminina fora convidada a procurar outra instalação.

Entretanto foi necessário tornar fôlego, pois os capitais eram escassos. Não durou, porém, muito o interregno, porque pouco depois mobilava-se o edifício com o indispensável e apelava-se pare a generosidade, entusiasticamente correspondida, dos Ourienses, na campanha de “Um lençol para o asilado”.

Assim se chegou a 20 de Janeiro de 1946.

A palavra “AZYLO” esculpida na cimalha do vasto edifício deixou de sorrir escarninha; os velhinhos do Concelho de Ourém podiam finalmente entrar.

Estava paga ao grande Ouriense a dívida aberta havia mais de meio século!

No “Noticias de Ourém” a 22/01/1950

1 comentário:

Sérgio Ribeiro disse...

Esta notícia, aqui transcrito, é de uma oportunidade enorme.
Hoje, a Casa da Criança está a viver um momento muito difícil reflexo de muita situação inadmissível, de fuga para diante, da "táctica" de varrer para debaixo do tapete dos outros.
É bom lembrar as raízes de muita obra que nasceu de excelentes intenções.
Para reforçar o esforço daqueles que lhes procuram dar cconcretização ou continuidade e encontram todos os escolhos.